sexta-feira, 9 de novembro de 2018

SONETO BOÇAL


Mal entrou o Bozo e seu governo,
Já estamos vendo a destruição:
Ministros prenhes de corrupção!
Entrai, irmãos, ao tempo do inferno.


Inventaram por si só um kit gay;
O meio ambiente ficou pro gado;
Caixa 2 pro juiz é desculpado
E fica o Temer porque "eu mudei!".

O Brasil agora é de igreja.
Damos cruz e armas a quem almeja
E fazemos um povo idiota.

Viva a família! Viva o Frota!
Adeus ao Ministério do Trabalho.
E nos trouxas onde vai o caralho?!

Novo Slogan

      Um puta país o Brasil: infame-o ou seixo-o.

MICROCRÔNICA MINISTERIAL


A gente fica querendo saber quem inventou o trabalho. Agora a gente já sabe quem acabou com o Ministério do Trabalho.

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

quarta-feira, 31 de outubro de 2018

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Se enQUADRA Mané


É triste! Falta vergonha a uma parte,
Eles não ligam mesmo não ver um debate,
Querem ver comunistas indo pra Marte
E um governo que não resolve, bate.

HAIKAI POLÍTICO


Eu não engulo!
Quem vota em fascista
Se faz de mulo.

#EleNão #HaddadSim

2 HAIKAIS POLÍTICOS


Candidato que prefere Ustra
Sabe muito bem
Qual machado que o ilustra.

#Elenão

O professor prefere Machado,
Pois com livro e educação
Deixamos ao povo um legado.

#HaddadSim

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

terça-feira, 9 de outubro de 2018

UM ESTUDO EM VERMELHO


A procura do que nos assemelha:
A paixão que o tupi deu - urucum,
O rubor tropical de cada um.
Tá no nosso sangue a cor vermelha.

Diga: qual o problema do vermelho?
Um país em que a mistura alenta,
O Amor é amarelo e magenta,
O respeito está além do espelho.

Vamos colocar na boca o carmim,
Marcar a rosa do povo com rubi,
Tingir a paz com o melhor de ti,
O bem é pra todos e não só pra mim.

Do branco, do preto, do novo, do velho
É o amor que deve vir primeiro,
Não ódio pintado no brasileiro.
Diga: qual o problema do vermelho?

#Elenão


O Brasil tá ficando demente.
Tem candidato de cara lisa
Que vê no ódio a sua camisa
E nisso quer ser o presidente.

O ditador sobe nas pesquisas.
Mal sabe o povo que ele mente.
Diz só merdas, pobre da Anvisa!
O Brasil tá ficando doente.

Trouxas de verde e amarelo
Com medo da foice e martelo
Vão perdendo de toda a razão.

O seu vice um vil carniceiro
Quer sacanear o brasileiro,
Mas nós temos salvação: #Elenão!

AFLORISMO


Quando não se tem mais versos
O que fazer com o pedaço do infinito?
Acho que é hora de dormir. É tarde. Não sei calcular a hora dos sonhos, o mês de outubro que adentra como um gato na sombra da gente.

Um silêncio me rodeia. Um intolerável sono quer me libertar da humanidade. Mas acho que no lugar dessa ferida que fecha os olhos feito um armazém, há uma cerimônia única escrita nas camas. Um vulto solitário que pouco uso.

Acho que é hora de dormir. É tarde. Há outros desejos me crescendo. Mas acho que o sonho quer me dominar com a sua impertinente teimosia.
Sou todo noite
Quando tua boca
Não me atravessa
Diariamente.
O despertar é sempre
Um apocalipse.

terça-feira, 2 de outubro de 2018

MICROCRÔNICA POLÍTICA


Meu medo é ver muita gente colocar nas urnas o resto das cinzas da democracia.

 #EleNão

OS PÉS


Os pés têm vocação para fazer saudade. Mesmo juntos dialogam expansivos. Lado a lado marcam sua voz. Questionam sob o domínio da razão. Cosmificão aquela posição dramática. Unem-se naquele incômodo aspecto. Talvez se entendam. Montam banca. Estrutura poética. Param juntinhos. Descansam também separados. "PRONDE VAMOS?", dizem unificando o discurso. Aparentemente duvidam do caminho. O medo que vem defronte. Estampam no solado o fragmento do início e o destinatário da saída. Ou volta a volta a volta. Quiçá a nunca ida. Os pés vizinhos. Os pés irmãos. Os pés demarcando fronteiras. Um quer ser a terceira pessoa da narração, outro o aparecimento do eu. Mas contraditoriamente não se separam. Como locutores de situações extremas seguem vistos pela sociedade Unidos. A preocupação de quem vê é a eficácia de deixar eles assim: perdidos. Personificados. Batendo o pé. Juntos! 

Ahhhhhh! Mas quando brigam... pisoteiam a verdade e na ponta do pé botam calçado nas mentiras. Mas quão fácil é identificar a busca passo a passo um pelo outro. Um limpa no tapete o livro mal aproveitado. Outro sucessivamente na frequência do espelho renega seus cacos. Metemos o pé na jaca, o pé na porta, troca as mãos pelos pés e pé na tábua. Que pé que não briga com outro? Querem sentir saudade. Afastam-se na necessária extensão da distância. E se há distância medimos o tamanho do quarto. O espaço para caber a cama. Separam-se para se conhecer. Ajudam um ao outro na prevenção dos abismos. Vão pulando os erros homologados. Um quer fazer do outro a vida mais lenta. Quem não quer uma pausa para dar importância a música? Quem não quer fazer o erótico a fuga e a chamada do prender-se?

Os pés têm relação estabelecida. Os pés têm erros. Esse texto tem erros. Os passos se erram. Somos errantes muitas vezes. É a natureza do duplo. A outridade simétrica da sombra. Quando um vai o outro se transporta. Vamos atrás desse diálogo especular. Vamos, pois, além dos pés. Uma briga que nos move. Uma caminhada da aprendizagem. Vamos na perspectiva do incrível momento da chegada. Do parar lado a lado e dizer a cada pé, e na interseção a qual consideramos, que conseguimos vencer o inimigo do passado. Ficou pra trás a evidência do antes. No entanto, podemos dar um passo atrás para recuperar melhor o personagem. Deve-se assim sempre dar um passo à frente para o irresistível desejo de andar mais para frente para conquistar sempre. E mesmo os pés parados, é uma indicação de que a saudade é uma eternidade imaginária. Os pés juntos descansam na morte. Os pés sabem fazer pausas na vida para particularmente demarcarem a sua história. Por isso sao pés. Por isso fazem parte de nós. Assim a pé vamos!

MICROCRÔNICA POLÍTICA


Após denúncias de ex-mulher, Bolsonaro afirma que ela armou pra ele, pois o único patrimônio que tem é sua idiotice.

#elenunca

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

AFLORISMO


Dentro de mim o mar vai me libertando das águas passadas.

Para os 70 anos de Caio Fernando Abreu


Apaixonar-se é levantar
Um poema ao íngreme do coração
E depois saber que estamos
Condenados, por fim,
A sorrir, nos próximos dias,
Ao lado das viúvas no
Reflexo dos óculos escuros.
Apaixonar-se é permanecer
Entre os vivos diante
Das sombras das ruas vazias.
Vamos nos afastando
De nós mesmos, sabendo
Que a incerteza nos separa.
Apaixonar-se é fazer
Um poema já desarrumado.

terça-feira, 11 de setembro de 2018

terça-feira, 4 de setembro de 2018

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

HAIKAI


Arrasta-se pela sombra
Claramente Eu. Eu mesmo.
E isso me assombra.

INQUILINO



O amor se hospeda
No quarto de cima.
Não paga aluguel
Há anos. Mas não
Se deve cobrar do
Amor sua infância
Perdida pelos
Cômodos. O que
Se deve pedir
É para parar de
Arrastar as
Recordações
Como uma ferida
No assoalho do peito
E economizar
No banho que dá
Aos apaixonados,
Desperdiçando
Pelos olhos sua
Saída infinita
Para comprar
As frustrações.

quinta-feira, 26 de julho de 2018

CONTAS


Já não pago mais as contas.
Ah, mãe! Venda o que achar.
Já tô com as malas prontas
Vou embora pra algum bar.

Sei que serei um boêmio
Bem eleito pelo povo,
E se eu vencer de novo
Ganho uma conta de prêmio.

Na vida paga-se tudo,
Nem morrer é de graça.
O médico foi bem rudo,
A dor do tapa não passa.

Tento. Por mais que trabalhe
Tenho que pagar quem devo.
Tento. Por mais que eu fale
Dívidas são o que escrevo.

Nada mesmo afugenta
Os credores, os carteiros.
Sorrir não é ferramenta
Para pagar os primeiros.

Toda conta é tortura,
Grande tristeza extrema.
Conserve, mãe, a fatura
Como último poema.

DIA DO ESCRITOR



O branco ofuscante do papel vazio dormia nas mãos inconfessas. O lápis descia uma oitava para que a frase surgisse três compassos depois. E foi assim que ele se descobria, com olhos e mãos patinhando nas ingrediências da poesia.

terça-feira, 24 de julho de 2018

MICROCRÔNICA POLÍTICA



Novo Ministro do Trabalho com 24 infrações trabalhistas é empossado por saber dar trabalho ao MP.

AFLORISMO



Dai aos encontros a condição de te dizer que o amor existe e que não passei pela vida sem te ver.

DIA DO ROCK


Com seu coração de gelo
A saudade bate
On the rocks.

ARREPARE NÃO


Essas cousas di pueta vêm encravadu na planta du pé. Semente qui a genti pisô ao nascer pras belezuras da eternidade. É um pirigu. Dá febre terçã e paixões pra lua. A gente arrepara nu andar dessis doido avuanu na vida. Algumas bocas mardosa u chama é di peralta. Outros cum muito palavreadu. Todus quando um pueta passa abre roda di medu e fogi prumas páginas di livru.

MINICONTO


Jogador

Pendurou as chuteiras porque andava pisando na bola com o time.

segunda-feira, 11 de junho de 2018

SILÊNCIO


Pensar em silêncio
O ruído que rói o homem,
A palavra estonteada
Do tempo.
O silêncio dos terraços
Pelo lado de dentro,
Pelo lado de dentro
Da gente.
O terrível silêncio
Subterrâneo do grito.
Acordemos as vozes
Dos mortos,
Árvores caladas.
Pensar em silêncio
A cidade debaixo
Do passado,
Antes que se extinga,
Durante os meses
Da fala, o mais remoto dom:
O silêncio

segunda-feira, 4 de junho de 2018

O poema é um desígno, por vezes, não acontecido, como um casaco esquecido na invenção da cadeira, onde ainda devemos sentar.

PARENTE DO HINO NACIONAL


Ouviram no Ipiranga as bombas tácitas
De um povo em caminhões beligerantes
E o preço da Petrobrás um ágio estúpido
Parou na Shell da Pátria revoltante.

Se o motor tá na anormalidade
Conseguimos empurrar com braço forte,
Em um posto vai parar, ó humanidade,
Pois a gasolina vai cobrir a nossa morte!

Ó Pátria finada
Uma gota pra cada
Salve! Salve!

terça-feira, 29 de maio de 2018

NA ESTRADA


Li num parachoque de caminhão:

"A saudade anda abastecendo minhas ilusões, mas não se preocupe porque nessa velocidade o coração está preparado para os desastres".

Não tenho muita certeza se estava escrito isso mesmo. Eu mijava na beira da estrada e escrevia meu nome para ver se nasciam flores.

Ouvi a buzina decapitando o silêncio e aquele turbilhão atropelou minhas ideias.

Sou um pouco míope e do que ficou do caminhão foi não saber do seu destino, assim como não sei o meu, mas são lugares para conquistar a própria mágoa.

E acidentalmente tomamos uma multa por pensar em amor em plena luz do dia.

quinta-feira, 24 de maio de 2018

quarta-feira, 16 de maio de 2018

quarta-feira, 9 de maio de 2018

QUADRA



Tenho olhos habituados aos choros,
Diante duma constelação que delira.
Creio que nos olhos a lua adquira
A força das lágrimas: dos meteoros!

quinta-feira, 19 de abril de 2018

MINHA PASÁRGADA



(Aos 132 anos do Manuel Bandeira)

Quando eu tinha seis anos
Ganhei um passeio pra Pasárgada.
Que dor me dava na máquina dos olhos.
Porque Pasárgada era um quarto
Descascado no ramo de um orfanato.
Levaram-me com raízes queimadas
Pras chuvas loucas e camas
Rangentes de violinos.
Eu não gostava dos espelhos vigilantes.
Queria era estar nas alegrias
Extáticas e azuis dos passarinhos.
Pasárgada devorava com relâmpagos
minhas inúmeras letrinhas.

- Pasárgada foi a terra do rei e minha
tristeza aplainada de poeta.

Dia do Índio

Prefiro o verbo Tupi. Este é o nosso índioma!

sexta-feira, 13 de abril de 2018

SEXTA-FEIRA 13


Que gato preto dá azar eu não sei, mas que Tucano dá sorte, isso dá!

30 DIAS


P/ #Marielle

30 dias sem notícias,
Fica só sua ausência de resposta.
30 dias sem regresso
E muitas coisas sentem sua falta.
30 dias sem você
Para organizar a minha solidão.
30 dias sem sorrisos
E os instantes apertam minhas mãos.
30 dias de espera
Já que a rua dura muito tempo ainda.
30 dias doloridos
E o teu nome está cansado nos relógios.
30 dias de verdade
Para uma verdade que ninguém revela.

quarta-feira, 11 de abril de 2018

Palíndromo do encontro



E VEM E ME VÊ.

SOU COMO A CASA

Sou como a casa
A contruir pessoas.
Sou como a casa
Com gatos navegáveis.
Sou como a casa
Pequena de nuvens claras.
Sou como a casa
Firme e triste de ócio.
Sou como a casa
Com uma alma dentro.
Sou como a casa
Com cor intemporal.
Sou como a casa
Pássaros na queda do sono.
Sou como a casa
Sem caminho para fora.
Sou como a casa
Anônima na imaginação das cartas.
Sou como a casa
Grades envergonhadas.
Sou como a casa
Sombra repousada na terra.
Sou como a casa
Sala de star da lua.
Sou como a casa
Bordel para divertir o sol.
Sou como a casa
Coração confundido nos desastres.
Sou como a casa
Poema na testa da criança.
Sou como a casa
Palavra antiga para algumas portas.
Sou como a casa
Janela do mundo num quarto só.

segunda-feira, 9 de abril de 2018

PÁTRIA


Se a pátria nos impõe desigualdades
E vemos só injustiças e matanças,
Gritemos! Gritemos alto por mudanças,
Pois a liberdade tá atrás das grades.

sexta-feira, 6 de abril de 2018

O BRASIL DA GENTE



Grande acordo, com Supremo, com tudo.
Eis o lema atual da nossa bandeira.
Assim vemos o Brasil descer ladeira,
Ao som dorido do martelo agudo.

Enquanto isso, o Temer, senhor poluto,
É santificado pelos seus rebentos,
Ganhando deles, altíssimo tributo,
E satanás sempre cobra seus proventos.

Brasília é mais um traço condenado
Nas páginas da nossa Constituição.
Resta, quem sabe, uma luz sobrevivente?

Sob triste céu de um povo magoado,
Vamos à luta com todo o coração,
Pois é da luta que nasce nossa gente!

HAIKAI



O vento
Leva a saudade
Pra dentro.

MOLHADO



A chuva veio inesperada.
Que raios!
O que você foi fazer
Debaixo dos meus olhos?
Justo hoje que esqueci
O seu nome em casa.
Tive que me abrigar
No vazio das marquises,
Vendo a chuva
Escrever no muro branco
As palavras desabitadas.
Triste, lembrei que o vento
Há de roubar você
E as sombras das janelas.

quarta-feira, 4 de abril de 2018

JUÍZO FINAL



“ April is the cruellest month...” (T.S. Eliot)
“Abril é o mais cruel dos meses”

No dia 4 de abril
O juiz bateu panela,
A justiça sumiu.

Sofre a sequela
Esse país molambento
Em tom de mazela.

Em todo momento,
São ameaças e tiros
Sem um argumento.

Somos pioneiros
Nos tipos de corrupção,
Pobres brasileiros.

Qual a nossa missão?
Políticos e juízes,
Reis creem que são.

Tolos, infelizes,
Vemos mais uma pessoa morta
De todos matizes.

Batem na sua porta.
Soldados e mil impostos,
Ninguém te conforta.

E cheios de desgostos,
Vemos o Brasil derruir
Em quantos mais rostos?

Quem vai se redimir?
Enquanto o povo sofre
Tem sempre um a rir.

A senha do cofre
Nosso presidente sabe.
Digite: Enxofre.

Aqui tudo cabe.
Exército e o ladrão.
Brasil se acabe.

HAIKAI GRAMATICAL


Chorou um pranto.
Como o pleonasmo
Aguentou tanto?

AFLORISMO AO GENERAL

Inspirado em Millôr

Farda mas não trabalha.

quarta-feira, 28 de março de 2018

PEQUENA HISTÓRIA DA CRIAÇÃO



(P/ Millôr)

Bum! E Deus fez Adão.
Um grande preguiçoso
Vivendo de pensão.

Triste vagabundo,
Quis uma ter companhia
Pra esse mundo.

Por uma bagatela
Vendeu uma árvore
E uma costela.

Nascia Eva.
Mulher pra abalar,
Mas maleva.

Já de saco cheio
De Adão, Deus perguntou?
- Gostas? - Odeio!

Foi dar cabo
Da situação chata
E viu o diabo.

Em 1 minuto,
Vendeu a Eva o coração
Como um fruto.

Deus a avisou.
Eva falou: - Foda-se!
E comemorou.

Foi uma mordida.
Queria ela tá banguela
do que essa vida.

Saiu sem nada.
Nasceu a sociedade
Deseperada.

Ah! Pobre de Eva.
O que agora ganha
Não paga a cerva.

Adão, poeta,
Vende suas poesias
Aos proxenetas.

Caim e Abel:
Um virou traficante,
O outro, no céu.

Maldita maçã!
Agora faz sucesso
No Instagram.

Bendito fruto!
Adão e Eva vivem
Sem um puto.

quinta-feira, 22 de março de 2018

EM TODA MINHA ROUPA

Ao Dia Mundial da Poesia! ❤



Predominava
Em toda minha roupa
Seu corpo todo
Em sílabas e folhas.
O vento inesperado
Sacudia as
Palavras e
Amarrotava as
Madrugadas
Dos relógios.

Eu me perdia
Por dentro
Só para você ficar.

O seu cheiro de terra
Tornava tudo
Muito cotidiano.
A tarde de chuva
Entrava em
Toda a roupa,
Organizando
Minha solidão.

Suado num recanto
De memórias,
Encardido com
Os pequenos lugares,
Predominava
Em toda minha roupa
Um resto de casa,
Uma marca de abraço,
A rua atropelada,
O teu corpo todo.

Por nada a roupa
Tirava, mas rasgava-me
Com a mesma pedra
Faca argumentos
E dor.

Sei que a roupa
Não me servia.
Andava apertado
Pelos muros da vergonha.
No entanto,
A idade pregada na
Roupa me chamava
De amor.

Predominava
Em toda minha roupa
O poema inconcluso
Do aroma suficiente
Da sua última lágrima.

E eu usava sempre
A mesma roupa
Só para usar seu
Corpo todo.

terça-feira, 20 de março de 2018

HAIKAI



Cão sem dono
Desenterra do tempo
O outono.

HAICAI GRAMATICAL



Eu vou à praça.
A crase se senta,
A tarde passa.

SONETO SAUDOSO


P/ Deise Alves e Joelma Alves Eleutério

Saudade... vermos mamãe rezando
Quando o pranto nos trazia o frio.
Saudade...! Mesmo tendo um vazio,
Seu amor vamos multiplicando.

Sua vida na Terra não foi à toa.
Ao lembrarmos de ti, de repente,
Vimos que você foi um presente,
Temos agora uma saudade boa.

Ao bater os sinos das igrejas
Sei que nosso rosto tu beijas,
E assim a gente não esquece:
Ouvimos de longe a sua prece.

A saudade então vai cantando...
Seu amor vamos multiplicando.

QUADRA SATÍRICA DE ANIVERSÁRIO


P/ Walter Ianni

Amigo, deixa de parolice!
Não reclame. O tempo avança.
Se lhe crescem ciência e pança
Aceite a sua vasta velhice.

HAIKAI



Em toda a rua
Armanezar passagens
A procura sua.

quinta-feira, 15 de março de 2018

VI O SORRISO DA MULHER NEGRA ASSASSINADO


vi o sorriso da mulher negra assassinado.
vi seu rosto negro com marcas da história.
vi o sangue negro levantar sua bandeira
& se afundar & escorrer nas ondas do mar,
pintando a areia branca com sua cor.
vi a rua abatida. vi o carro esburacado.
vi o corpo ofendido, perturbado & morto.
estamos fodidos. estamos cobertos de sangue.
está tudo passado em papel em branco.
a sentença está na cor da pele,
na colorida dor de África. vidas negras importam?
8 ou 9 tiros. pouco importa. os inimigos
tiram vidas, tiram o sono das pobre mães.
querem alvejar os negros. querem cobrir
o negro. a alegria negra. a voz negra.
querem sambar com a injustiça,
dar votos para a comissão de frente
da ditadura, querem cantar o feminicídio,
querem os inimigos aprisionar em
silêncio o grito da revolta.
cria da maré, da rocinha, pavão & pavãozinho,
da quebrada, da favela, querem
cantar as mágoas de março
nos bares chiques do leblon,
querem matar os jovens negros
nos sinais de trânsito & ainda assim
transitar livres pela baía de guanabara.
querem comprar a carne negra nas calçadas,
ricos, brancos, brancos, brancos,
riem das dores do morro,
das causas de março, das negras do mundo.
o homem e o mesmo Rio seguem iguais.
"precisamos gritar para que todos saibam
o está acontecendo em acari nesse momento."
o que está acontecendo com nosso país?
a cidadania está morta. o negro alvo da morte.
os sonhos & planos enchem as praias
de lágrimas. uma mulher negra passa
vendendo suas lágrimas. é sacolé,
é biscoito, mas no fundo o que o inimigo
quer é o mate. mate. mate. mate.
a família negra treme em seu pequeno barraco.
é chuva, é vento, é frio, é o tiro, o murro,
que sacode a casa, que fratura os ossos
& desperta a criança negra do seu sono de fome.
o inimigo quer entrar. você sabe do que ele é capaz.
o negro sabe do mundo. o pobre sabe da dor.
a favela não sabe seu nome, muitas vezes
visitada por balas e turistas.
o coração do negro pulsa, o do inimigo bate,
espanca, assassina, cala o surdo chamado.
o inimigo persegue incansavelmente,
golpeando os direitos, golpeando a mulher negra
mesmo essa liquidada no beco de suas tristezas.
está na hora de perseguirmos os inimigos,
apesar de sua potência de fogo, sua proteção
da gravata, do seu colete de toga.
o inimigo não quer desaparecer.
a mulher negra está na luta para não
desaparecer. ela suporta a dor de anos,
escrava dos homens, escrava do tempo.
não fique quieta, não fiquemos quietos.
a raça negra, negra como a noite
não deve se esconder atrás das
estrelas, do branco carregado de vaidade.
mulher, mulher, mulher.
vi seu sorriso assassinado.
vi suas mãos de luta alimentar seus filhos.
vi seu coração largado
no céu escuro. pobre negra, negra pobre.
querem colocar no ar mais uma série
da barbárie. querem fazer uma minissérie
das suas angústias para o inimigo
ganhar mais propaganda & ibope.
querem dar um emprego para lavar o branco.
vão assim, mulheres negras, morrendo
aos poucos & outras vão morrendo mais.
a morte está vestida de branco.
mulher negra, o terreiro te canta.
iansã, ewá, nanã, oxalá!
há guerras dentro da mulher negra,
ao redor da mulher negra,
e morre a mulher negra.
mais um nome sangra na história branca.
não podemos deixar em brancas nuvens.
os inimigos têm de pagar.
luto e luta fazem o seu corpo.
vocês são presentes. vocês estão presentes.
não se deixem calar.
vi o sorriso da mulher negra assassinado.
é um recado violento. é uma ameaça. é um genocídio.
é mais uma arma na cabeça de todos nós.

quarta-feira, 14 de março de 2018

POEMA AO UNIVERSO



Para Stephen Hawking

Eu olho a harmonia das estrelas
E faço versos ao infinito.
Só se ganha sua luz, acredito,
Quem sonha dia a dia merecê-las.

Eu olho a harmonia das estrelas
E vejo quão imperfeitas elas são.
Se podemos ouvir as estrelas
Escutai o universo do coração.

segunda-feira, 12 de março de 2018

UM PORRE COM BUKOWSKI



(Pelos 24 anos de morte do velho safado)

Nunca chamei de PORRE
A sensação de despertar,
Após uma noite de loucura,
Como se tivesse sido
Atropelado pela Variante
Do pai da sua ex-mulher.
Eu sempre chamei isso de Amor.
Amor que nos seca a boca
Feito um antidepressivo
Que engolimos quando
Achamos que estamos
Atolados em merda.
Amor que nos explode o crânio
Na dúvida de uma cefaleia,
Uma bala de revólver ou
Uma ambulante traição.
Amor que nos faz passar
Horas prostrado na cama
Ou nas preces do banheiro,
Balbuciando um nome,
Regurgitando a lua mestiça.
Amor que nos tira do lugar
Aos pontapés igual ao
Segurança do prostíbulo.
Amor tem esses frenesis
E distúrbios de um fogaréu
Vivo de tesão e perfume.
Por isso, tenho persistência
(Talvez um pouco de sorte)
E aceito, ancorado no balcão
De um boteco miserável,
Qualquer sorriso melancólico
Que anime meu coração
A pagar por um sentimentalismo
Barato. E possa acordar,
Apesar do sol inimigo, ciente
De que o amor é tudo um porre
E que vale a pena o amor,
Já que ele é a soma de
Todos os meus erros.

(VFM)

HAIKAI



Calma. Muita calma.
Onde dentro da gente
Nos cabe a alma?

Bashô até o chão



No velho tanque
A rã pererecava
Ao som do funk.

sexta-feira, 9 de março de 2018

O CORAÇÃO PERDIDO DO NATAN


(Das conversas inspiradoras com Walter Ianni e Nz Braga)

Meu coração me dê a mão. Vem por aqui longe dessas ilusões. Escuta-me. Escuta a dor desamparada dos trópicos. O caminho que escolhe são de anos e danos de tortura. Siga-me por esse corredor vazio de tempos mortos. A viagem vai ser longa. Não queira se despedir. As partidas são imperfeitas.

Meu coração, venha por aqui, aonde podemos nos render em outros fascínios. Meu coração me dê a mão. Agarre-me com vigor. Não importa aonde o amor tenha começado o seu rastro exato, venha, vamos seguir a aventura de nos perdermos em outro sofrimento.

quinta-feira, 8 de março de 2018

MADALENA


a mulher menstruou dois filhos,
hoje, antes do café da manhã.
no lençol ardia aquele velho
poema que ela teve que lavar
para não ser julgada durante
a temporada de caça às bruxas.
o marido tinha deixado uma
rosa de sangue em seu rosto
dizendo para que ela lembrasse
o fim do verão no dia de hoje.
algumas lágrimas cruzaram
o chão aonde os seus pés
caminhavam para não voltar.
o quarto do bebê cheirava
a arroz queimado e os brinquedos
da sua infância ainda tinham
as marcas da sua tristeza.
a mulher fechava a porta de casa
e trancava-se por dentro,
com o mal estar das palavras
rasgadas ontem ao anoitecer.
o porta-retrato da mãe
jazia ao lado do criado mudo
e muda ela estava diante
daquele sorriso maternal de
incômodo desespero.
era mais um dia para arrumar
a mochila dos filhos,
esta carregada de cadernos
em branco e com páginas de luto.
tudo parecia se repetir.
o tapa que dava para matar
a mosca seca era uma forma
de se libertar das inquietações
frutíferas que apodreciam
no ventre vazio, nos olhos vazios.
ela limpou no forro da mesa
suas tristes cantigas de ninar.
sentia-se suja e citava deus
sem ao menos acreditar.
estava ela presa como eurídice
ao inferno do seu cotidiano.
na tv um homem sorria ao discutir
sobre o mercado de trabalho,
gabava-se de gerir uma fábrica
de mulheres. em outro canal
havia denúncias contra ela ou
sobre milhões e milhões dela.
a mulher laborava um arrependimento.
a casa, seu útero machucado,
era invadida por fantasmas.
não havia distância entre a porta,
a dor, a mala, a raiva, o homem.
mas ela não conseguia prosseguir.
prendia-se ao espelho maquiando
o silêncio ininterrupto do rádio
consumido pelas formigas.
varria os hematomas jogando
para debaixo do tapete novos sonhos.
a louça equilibrava-se sobre as costas
da mulher do próximo. pensava.
penava: "olhai por nós, pecadores".
o coração envelhecido acotovelava-se
entre as frágeis costelas, tal qual
um animal amuado de incertezas.
havia uma dor verdadeira em seus
lábios trancados, nas mãos nodosas
esquecidas no fundo da geladeira.
ouvia da rua diversas mães
gritando pelos seus bebês.
e todo aquele sangue. todo aquele
sangue dentro do filme tedioso
que passava pela sua cabeça.
hoje a mulher tinha um funeral
para ir e por isso cozinhou
os ovos no suor do umbigo.
ela queria ter um sorriso inventariado,
mas a herança era uma aldeazinha
desbotada numa máquina de lavar.
a mulher queria construir um
novo universo, alugar um lugar
na história, com a certeza de dizer
que não aceitaria mais as injustiças.
pediria ajuda aos netos do futuro.
ela era melhor, bem melhor,
do que aquele macho mal-acabado.
nos seios corajosos e adoçados
de leite poderia extrair a sua força.
o vento de praia ia empurrando
aos cantos da casa os descuidos
dos filhos e sua solidão feito
um imenso bombardeio.
o sol que entrava tímido
pelas frestas da sua blusa
esquentava o medo e secava
a ferida deselegante.
ela queria deixar agora só entrar
pelo corpo as carícias da liberdade.
desejava fumar seu cigarro
em paz e bater as cinzas
no vaso das violetas,
antes de ser novamente fuzilada.
daria fim ao marido de noite.
a foto despojada do casamento,
nas cascas da parede,
dava o engulho das grávidas
e mostrava a gravidade nua dos curativos.
Isso haveria de mudar.
os cincos reais miúdos sobre a mesa
era o vestuário cafona do machismo.
Madalena resolveu desacordar
os homens com seu grito de guerra.
sairia da acomodada e agressiva
vida. ia cuspir pelos pratos,
ia masturbar pelos cômodos,
ia se vestir de luta e sair descalça
para ser falada pelo mundo e igrejas,
ia fazer um jantar à luz de velas
e temperar com a menstruação
o macarrão que serviria
para saciar toda a família,
com o sangue guerreiro que
continua a crescer e a lhe
fazer uma mulher imortal, livre
e simplesmente irreconhecível. 

HAIKAI


Coisa mais rara:
Ele furtou um livro
E livrou a cara.

MINICONTO TRISTONHO


Noc, noc. Bate a recordação de quão feliz nós erámos. A Tristeza é uma visita que não bate à porta. Entra sorrindo sem saber o que ela significa, com um bolo na mão decorado de repetidas oportunidades. Caminha na sucessão dos fracassos sem peso na consciência. Adentra agradecida pela casa, consolando invencível os cômodos. Senta trajando a imbecilidade dos corações, tem fome de lembranças e a sede irrefreável dos tuaregues. Servimo-lá suportando seu passado, artifício para adivinhar se a mentira é uma pequena felicidade. 
A Tristeza gosta de perguntar se notamos sua mudança, o cabelo novo escarpado, a roupa nova e fria como sempre foi, mas que nunca reparamos. Respondemos com lágrimas nos óculos, cientes que ela nos rouba os talheres ao fim do dia e pede pra levar um tupperware da nossa mansidão. 
A noite perdura sobre o brinco incógnito da lua. Lá está ela: a Tristeza de papo para o ar, bafejando palavras aos jovens que sabem sofrer mais. Para ela, a dor dos velhos são passeios diários. Insone e indomável, conta bem sobre tudo isso. 
Vão saindo os convidados. Destinam-se à porta com a dor voraz que cada um tem. Despedem-se um a um. Erguem uma tragédia de adeus. Porém, a Tristeza fica com todo o tempo que ela traz. Com sua desmesura. Com sua envelhecida negociata. Com o inoportuno. A Tristeza não está fora do jogo. Dá as últimas cartas. Cigarro à deriva, fumegando alguns destroços. Tosse uma sugestão. Soluça bêbada um acidente. Diz que foi sem querer. Nunca quis prejudicar os poetas, mas que eles eram perigosos. Falava por labirintos. Em alto mar. 
Era tarde demais. A Tristeza não partia, mas partia a gente em homeopáticos desfiladeiros. Bocejávamos. Pescávamos uma lástima que só ali a gente via. A Tristeza tinha vida própria. Queríamos deixá-la sozinha. Diríamos que temos sono e que um cansaço soturno já nos rasgava. Não conseguimos demovê-la. Ela insistia em permanecer. Apontava o dedo para o relógio afirmando que para a dor não se tem hora. Não se sentia inconveniente. Convinha acreditar.
A Tristeza era a nossa visita. Lá estava ela. Ali. Percebe? Vê? Sentada como uma armadilha para a infelicidade. Julga-nos com seu olhar impossível de escapar. Não havia remédio para a situação. A Tristeza não era uma ameaça.Ela queria ganhar nossa confiança. Apostávamos em suas palavras dentro da gente. Com o tempo confiamos piamente. Mais difícil era o amor. E amávamos a Tristeza.
Um dia ela desapareceu. Talvez estivesse ido ao banheiro, foi, quem sabe, lavar um copo ou encharcar um rosto inocente. Herdávamos sua postura. A Tristeza voltaria logo. Ela nunca se demora. O relógio o sabe chorando sua espera.
Noc, noc. A Tristeza talvez batesse agora no peito. Por certo, estaríamos prontos para abrir a porta e bater a porta para enfrentar, prenhes de segurança, a vida, totalmente nobres de Tristeza, até a próxima visita. Noc, noc.
(VFM)

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

RECEITA PARA FAZER UMA ONÇA


a criança perguntou à sua mãe 
como se faz uma onça.
A mãe respondeu que primeiro
é preciso escrever um poema
sobre a sombra de uma árvore 
cansada e colocá-lo numa mala.
depois despacha-se a mala
com o poema dentro para 
algum lugar clandestino.
Agita-se antes de usar e
deixa agir entre uma verdade
que é uma outra verdade.
quando a memória, sem querer,
rugir, a onça estará pronta
para devorar a felicidade
insuportável dos espelhos.
a onça vai conseguir
caminhar pelos mistérios
dos asilos e lamber a mão 
que balança o berço,
diante da selvagem
intolerância dos outros.
Sirva a onça à vontade
antes que ela crave em
alguém seus olhos tristes.

(VFM)

HAIKAI PARA SCHOPENHAUER



Sofre sem saber.
É renovável a dor
P'ra se perceber.

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

ESMALTE


ela pintou a unha
do polegar para esmagar
a cabeça do rapaz,
mas furou o dedo
no guarda-chuva.
do polegar colorido
o sangue envelheceu o rio
e cobriu toda a cidade
com ilusões mais caras.
enquanto as pessoas
remavam um longo silêncio
sobre seus caixões,
o rapaz sorria,
encharcado de relógio,
com a pressa de Deus
para embarcar no jornal estrangeiro de ontem.

a moça roeu a unha,
a pele, as lágrimas,
os ossos do ofício e sentiu na boca,
pela primeira vez,
o gosto do desconhecido,
que continua a lhe crescer
como uma micose.

(VFM)

MILLÔRIANA


A ética só chegou ao Brasil através dos dicionários.

sábado, 3 de fevereiro de 2018

AFLORISMO DE FEVEREIRO


No carnaval meu bloco vai se chamar Salário Mínimo, pois só dura 3 dias de folia.

(VFM)

MINICONTO


Um bêbado pergunta ao outro:
- Já foram quantas?
- Não sei. Pede mais uma pra gente não perder a conta.

quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

HAIKAI


Amar traz assombros. 
Não sabia que lágrimas
Pesavam nos ombros.

HAICAI DORIDO


Haja combate.
Coração acelera,
Fere e bate.

HAIKAI


Paixão não tem calma,
Entreabre um verso 
Em toda a alma.

Projeto de Constituição simplificada e temerária para o Brasil


Art 1 - Todo Brasileiro tem como afundamentos:
I. Enfrentar uma fila em ordem do mais rico para o mais pobre para pegar uma senha ao progresso.
II. Saber assinar seu nome para sonhar com uma carteira de trabalho assinada.
III. Entregar seus direitos a livre iniciativa privada.
IV. Ver florescer o pluralismo corrupto.

V. A dignidade de enfrentar o inferno dentro de um transporte público em horário de pico.
Art 2 - São todos os Poderes da União, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário e que se foda o povo.

Art 3- Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
I. Dar ao povo mais mãos para a mendicância e bolsos para a alta sociedade.
II. Fornecer 2 litros de óleo de peroba para tanto cara de pau.
III. Ter algum político inútil.
IV. Dar a democracia livre interpretação.

Art 4 - A República Federativa do Brasil rege-se pelos seguintes princípios do desbunde:
I. A mentira sempre prevalecer sobre o descalabro.

Art. 5 - Todos são iguais perante a lei de acordo com a natureza do governante nos termos seguintes:
I. É livre a manifestação do pensamento nas escutas telefônicas e nas estatísticas.
II. Mesmo que tudo esteja perdido, ache um desempregado.
(VFM)

terça-feira, 30 de janeiro de 2018

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

PARRAR



Para Nicanor Parra

Ele partiu e não pagou a conta,
Deixando-nos com todo tipo de poemas;
O cigarro aceso em cima do aquário
Para alimentar o vício do peixe imaginário.
Mais de um século de dívidas acumulou
Junto com as alfaces presas nos dentes.
Entendíamos que sofria de uma hérnia de disco andina.
Adorava Violeta e vivia aos cântaros chorando vinho.
Ele não tinha conserto. O seu relógio desleal
Marcava certas horas do infalível.
Chegava sempre de algum horizonte pecador,
Rindo como os sapos com a sorte grande dos príncipes.
O garçom nos olhava com temperamento ineficaz,
Tratando de enxergar o túmulo invisível.
O dono do estabelecimento nos perguntava
Por ele com sua gravata estúpida e sombra demoníaca.
Não queríamos dizer que ele não tinha pago a conta.
Arcamos com a dor da sua ausência e
Do seu copo de antipoesia pela metade do terço.
Estávamos cientes de que ele foi verter arquivos em nuvens esquecidas
Sem nos deixar, pelo menos, a gorjeta das suas últimas palavras.

(VFM)

POEMA BURLESCO



para Nz Braga

A gente perde o copo não o amigo.
Desculpe por estragar sua engenharia
Construída nos bares e sábio abrigo.
Sou um ébrio bebedor da sua poesia.

A gente não perde porre só amores.
Meu bom amigo, não esqueça tampouco
A filosofia vive de dissabores
E nosso coração é louco, tão louco.

Estimo sua companhia, ela importa
Para curar a ressaca, a sua nobre,
A minha tola de um poeta jeca.

No final das contas a gente suporta.
Enriqueço-me de ti já que sou pobre
e sou eu quem fica nisso mais careca.

(VFM)

sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

DESPEÇO-ME



Despeço-me com rugas no rosto
E com o meu coração pueril.
Despeço-me perdendo o posto
Atrás de uma guerra que ninguém viu.

Aproveito assim nesse meu adeus,
Para quem maltratou os meus lábios,
Deixar meus pertences junto aos teus
E os livros dos mais caros sábios.

Vou partir com mil sorrisos falsos,
Pois quero seguir outro caminho
Sem levar de todo um passado.

Despeço-me. Já estou atrasado.
Sigo agora melhor sozinho
Sem bagagem e olhos descalços.

(VFM)