quinta-feira, 19 de abril de 2018

MINHA PASÁRGADA



(Aos 132 anos do Manuel Bandeira)

Quando eu tinha seis anos
Ganhei um passeio pra Pasárgada.
Que dor me dava na máquina dos olhos.
Porque Pasárgada era um quarto
Descascado no ramo de um orfanato.
Levaram-me com raízes queimadas
Pras chuvas loucas e camas
Rangentes de violinos.
Eu não gostava dos espelhos vigilantes.
Queria era estar nas alegrias
Extáticas e azuis dos passarinhos.
Pasárgada devorava com relâmpagos
minhas inúmeras letrinhas.

- Pasárgada foi a terra do rei e minha
tristeza aplainada de poeta.

Dia do Índio

Prefiro o verbo Tupi. Este é o nosso índioma!

sexta-feira, 13 de abril de 2018

SEXTA-FEIRA 13


Que gato preto dá azar eu não sei, mas que Tucano dá sorte, isso dá!

30 DIAS


P/ #Marielle

30 dias sem notícias,
Fica só sua ausência de resposta.
30 dias sem regresso
E muitas coisas sentem sua falta.
30 dias sem você
Para organizar a minha solidão.
30 dias sem sorrisos
E os instantes apertam minhas mãos.
30 dias de espera
Já que a rua dura muito tempo ainda.
30 dias doloridos
E o teu nome está cansado nos relógios.
30 dias de verdade
Para uma verdade que ninguém revela.

quarta-feira, 11 de abril de 2018

Palíndromo do encontro



E VEM E ME VÊ.

SOU COMO A CASA

Sou como a casa
A contruir pessoas.
Sou como a casa
Com gatos navegáveis.
Sou como a casa
Pequena de nuvens claras.
Sou como a casa
Firme e triste de ócio.
Sou como a casa
Com uma alma dentro.
Sou como a casa
Com cor intemporal.
Sou como a casa
Pássaros na queda do sono.
Sou como a casa
Sem caminho para fora.
Sou como a casa
Anônima na imaginação das cartas.
Sou como a casa
Grades envergonhadas.
Sou como a casa
Sombra repousada na terra.
Sou como a casa
Sala de star da lua.
Sou como a casa
Bordel para divertir o sol.
Sou como a casa
Coração confundido nos desastres.
Sou como a casa
Poema na testa da criança.
Sou como a casa
Palavra antiga para algumas portas.
Sou como a casa
Janela do mundo num quarto só.

segunda-feira, 9 de abril de 2018

PÁTRIA


Se a pátria nos impõe desigualdades
E vemos só injustiças e matanças,
Gritemos! Gritemos alto por mudanças,
Pois a liberdade tá atrás das grades.

sexta-feira, 6 de abril de 2018

O BRASIL DA GENTE



Grande acordo, com Supremo, com tudo.
Eis o lema atual da nossa bandeira.
Assim vemos o Brasil descer ladeira,
Ao som dorido do martelo agudo.

Enquanto isso, o Temer, senhor poluto,
É santificado pelos seus rebentos,
Ganhando deles, altíssimo tributo,
E satanás sempre cobra seus proventos.

Brasília é mais um traço condenado
Nas páginas da nossa Constituição.
Resta, quem sabe, uma luz sobrevivente?

Sob triste céu de um povo magoado,
Vamos à luta com todo o coração,
Pois é da luta que nasce nossa gente!

HAIKAI



O vento
Leva a saudade
Pra dentro.

MOLHADO



A chuva veio inesperada.
Que raios!
O que você foi fazer
Debaixo dos meus olhos?
Justo hoje que esqueci
O seu nome em casa.
Tive que me abrigar
No vazio das marquises,
Vendo a chuva
Escrever no muro branco
As palavras desabitadas.
Triste, lembrei que o vento
Há de roubar você
E as sombras das janelas.

quarta-feira, 4 de abril de 2018

JUÍZO FINAL



“ April is the cruellest month...” (T.S. Eliot)
“Abril é o mais cruel dos meses”

No dia 4 de abril
O juiz bateu panela,
A justiça sumiu.

Sofre a sequela
Esse país molambento
Em tom de mazela.

Em todo momento,
São ameaças e tiros
Sem um argumento.

Somos pioneiros
Nos tipos de corrupção,
Pobres brasileiros.

Qual a nossa missão?
Políticos e juízes,
Reis creem que são.

Tolos, infelizes,
Vemos mais uma pessoa morta
De todos matizes.

Batem na sua porta.
Soldados e mil impostos,
Ninguém te conforta.

E cheios de desgostos,
Vemos o Brasil derruir
Em quantos mais rostos?

Quem vai se redimir?
Enquanto o povo sofre
Tem sempre um a rir.

A senha do cofre
Nosso presidente sabe.
Digite: Enxofre.

Aqui tudo cabe.
Exército e o ladrão.
Brasil se acabe.

HAIKAI GRAMATICAL


Chorou um pranto.
Como o pleonasmo
Aguentou tanto?

AFLORISMO AO GENERAL

Inspirado em Millôr

Farda mas não trabalha.