quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

HAIKAI


Amar traz assombros. 
Não sabia que lágrimas
Pesavam nos ombros.

HAICAI DORIDO


Haja combate.
Coração acelera,
Fere e bate.

HAIKAI


Paixão não tem calma,
Entreabre um verso 
Em toda a alma.

Projeto de Constituição simplificada e temerária para o Brasil


Art 1 - Todo Brasileiro tem como afundamentos:
I. Enfrentar uma fila em ordem do mais rico para o mais pobre para pegar uma senha ao progresso.
II. Saber assinar seu nome para sonhar com uma carteira de trabalho assinada.
III. Entregar seus direitos a livre iniciativa privada.
IV. Ver florescer o pluralismo corrupto.

V. A dignidade de enfrentar o inferno dentro de um transporte público em horário de pico.
Art 2 - São todos os Poderes da União, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário e que se foda o povo.

Art 3- Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
I. Dar ao povo mais mãos para a mendicância e bolsos para a alta sociedade.
II. Fornecer 2 litros de óleo de peroba para tanto cara de pau.
III. Ter algum político inútil.
IV. Dar a democracia livre interpretação.

Art 4 - A República Federativa do Brasil rege-se pelos seguintes princípios do desbunde:
I. A mentira sempre prevalecer sobre o descalabro.

Art. 5 - Todos são iguais perante a lei de acordo com a natureza do governante nos termos seguintes:
I. É livre a manifestação do pensamento nas escutas telefônicas e nas estatísticas.
II. Mesmo que tudo esteja perdido, ache um desempregado.
(VFM)

terça-feira, 30 de janeiro de 2018

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

PARRAR



Para Nicanor Parra

Ele partiu e não pagou a conta,
Deixando-nos com todo tipo de poemas;
O cigarro aceso em cima do aquário
Para alimentar o vício do peixe imaginário.
Mais de um século de dívidas acumulou
Junto com as alfaces presas nos dentes.
Entendíamos que sofria de uma hérnia de disco andina.
Adorava Violeta e vivia aos cântaros chorando vinho.
Ele não tinha conserto. O seu relógio desleal
Marcava certas horas do infalível.
Chegava sempre de algum horizonte pecador,
Rindo como os sapos com a sorte grande dos príncipes.
O garçom nos olhava com temperamento ineficaz,
Tratando de enxergar o túmulo invisível.
O dono do estabelecimento nos perguntava
Por ele com sua gravata estúpida e sombra demoníaca.
Não queríamos dizer que ele não tinha pago a conta.
Arcamos com a dor da sua ausência e
Do seu copo de antipoesia pela metade do terço.
Estávamos cientes de que ele foi verter arquivos em nuvens esquecidas
Sem nos deixar, pelo menos, a gorjeta das suas últimas palavras.

(VFM)

POEMA BURLESCO



para Nz Braga

A gente perde o copo não o amigo.
Desculpe por estragar sua engenharia
Construída nos bares e sábio abrigo.
Sou um ébrio bebedor da sua poesia.

A gente não perde porre só amores.
Meu bom amigo, não esqueça tampouco
A filosofia vive de dissabores
E nosso coração é louco, tão louco.

Estimo sua companhia, ela importa
Para curar a ressaca, a sua nobre,
A minha tola de um poeta jeca.

No final das contas a gente suporta.
Enriqueço-me de ti já que sou pobre
e sou eu quem fica nisso mais careca.

(VFM)

sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

DESPEÇO-ME



Despeço-me com rugas no rosto
E com o meu coração pueril.
Despeço-me perdendo o posto
Atrás de uma guerra que ninguém viu.

Aproveito assim nesse meu adeus,
Para quem maltratou os meus lábios,
Deixar meus pertences junto aos teus
E os livros dos mais caros sábios.

Vou partir com mil sorrisos falsos,
Pois quero seguir outro caminho
Sem levar de todo um passado.

Despeço-me. Já estou atrasado.
Sigo agora melhor sozinho
Sem bagagem e olhos descalços.

(VFM)