domingo, 29 de dezembro de 2013

Feito para o Natal


FAMÍLIA

É tempo de traçarmos o caminho.
Não andando pela noite escura
A ser pela vida um Eu sozinho,
Pois a solidão é dor impura.

É tempo de construir o nosso dia
Nos gestos deste tempo em vermelho,
Deixando o céu cobrir com alegria
O coração com quem me assemelho.

Devemos fazer da nossa mão asa,
Ninho de sonhos, ventura da casa.
Amemos! De amor vive o homem.

É tempo de cuidarmos em vigília
O que o tempo deu como família:
O sangue, o coração e um nome.

(VFM)

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

MICROCONTO


Pelo dia do arquiteto. Para Deise Alves


Arquiteta


Tentava edificar o nosso amor. Eu ainda querendo tombar seu patrimônio. Meu Deus dossel!!! Trena comigo?

(VFM)

2 MINICONTOS

Para o jornalista esportivo Daniel Ottoni


Série B

I

- É gripe?
- é Flu!

II

- Vascaíno está de cruz de mal?
- Tá!


(VFM)

AFLORISMO

Atavismo

DNAda vale o homem sem Poesia.

(VFM)

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

CONTO PREMIADO NO 9 PRÊMIO DE LITERATURA MAXIMIANO CAMPOS



JOGO DO BICHO 

 Seguia como todos os dias, andarilho, rondando como urubu no ar plúmbeo, bêbado igual uma égua desde cedo, cantando de galo. Bafo de onça, um cabra safado, feito cão sem dono pelas vielas do sol de julho, o malandro pisava cada pedra vigilante. Pé a pé, arranca um tatu do nariz e arremessa ao casal de pombinhos sentados no banco da praça, como se jogasse migalhas de desprezo. Os amantes bufaram de raiva, rinocerontes, num barrido: "Porco!". Ele pôs na boca uma hiena, o escárnio.

 Logo, tangia ao seu lado aquela bela piranha, famosa galinha dos puteiros, dona das barbatanas, que seguia balangando o rabo igual uma vaca que espanta mosca, mas atiça pica-pau. O magano, se achando um gato garboso, fluía margeando a boemia, na crocodilagem, no desejo insano de passar o rato, dar uma de jacaré em alguém (comia veado, paca, gazela, potranca), sem princípios e sem fins. Acendeu um vaga-lume, esfumaçou percevejos ao léu.

 Acostumado à selva cotidiana, ele, como coiote, driblava algema atrás da presa, pois se for pra engordar o gado e dar um abraço de urso que seja o encher a carteira de peixe graúdo, assim pra feder na roubalheira. Cheio de minhocas na cabeça, truta, ia traquinando, a cada passo cuspia marimbondos, escorpião no bolso, pronto pra atirar zunido de abelha. A fome de arrecadar arame verde, a bufunfa, as carpas, à custa dos outros, lhe instigava, assim como lobo que circula as ovelhas nas horas sujas.

 Parou na sombra do morcego, no mocó, ficou fazendo cera, no buraco, de olho na caranguejeira apertada na calça da jovem corvina inocente. Possuído, no código morsa da ladroagem, espreitou com olhos de tubarão, felino, águia, a vítima, a bonita preá. Corujando, ardiloso, escandia os trejeitos e vacilos. Secava, carcará, a aridez do bolso da calça, o colar de sereia no pescoço de peru, o pé de coelho dependurado na bolsa que trilava como cigarra. A sorte lhe avizinhava. "Hoje era dia de bicho!", matutava. A novilha primaveril serpenteava pela calçada, fogosa.

 O ébrio vadio, feito cobra, chacoalhava a arma, pressentia o ar sonso da marreca; ela ia lesmando. Quando a cadela, a freirinha-amarelada, menos esperou, miudinho, mergulhão, deu o bote, um touro, chifrou, puxou a escama, agulha, e alfinetou a pança da seriema. "Passa pra cá as saúvas, as lagartixas, as sardinhas, os esquilos", ciciou, grilo no ouvido, à tigresa, que pulou assustada, perereca. A jacu, arara da vida, gritou desesperadamente depois de ter perdido toda plumagem. De nada adiantou. Ele pegou tudo, mão leve, sutileza de elefante, limpou as penas da codorna, afanou. Correu, jaguar sorridente, na azáfama, estufado e soberbo, pavão.

 Depois de tanto saracotear, cuspindo no bueiro o passado, ele, chacal, parou no primeiro boteco pulguento, mexendo no furdunço neon da zona: Arca de Noé! Zoo! Passou catraca. Sentou pleno. De um lado pro outro Maria-fiteira, topetuda, de-olho-claro, bicudinha, sebinho, de-barriga-branca, do nordeste, catarinense, mirim. Aprumou olho-falso. Pediu pra garçonete, cachorra, jararaca, baiacu, uma baleia, chorar mais um girino no copo, pois hoje era dia de festança, o curral foi aberto. Tororó! Risadinhas pra cá e acolá. Bebeu caninana até ficar alegrinho, cara-dourada. Balançando o copo, cascavel. Do seu lado vários sertanejos-escuros. João-pobres. E ele lá cheio de anchovas. Canguru. Cascudos saltando da algibeira, gibão.

 Para se fartar a tarde, comeu um leão! Fome de avestruz. Satisfez o javali. Chupa-dente. Bebeu a ardente, desértico, feito camelo! Bico-virado-fino. Estalador. Espreguiçou, com pompas, pinguim-rei, capitão-de-coroa. Bocejou, bicho-preguiça, joão-bobo. Pagou a capivara, o calango, o pichororé, a conta. Porém, inquieto, com a espora travessa pulsando, pra não deixar passar em branco céu gaivota, apurou as garras do gavião, coçou um tesão. Resolveu comer um bom rabo-de-palha-de-bico-vermelho, uma gostosa biguá, esfolar um tuiuiú, foder uma esplendorosa, coral, borboleta.

 Piscou pra primeira noivinha-coroada que ouvia o som na vitrola: Mamba Negra. Soprou: "Bem-te-vi!". Bafejou no ouvido, sabiá: "Vamos fazer um corocochó?!". Ela, chibante, calcinha-branca, gralhou um “Simmmmmm” melódico. Puxou pra perto a andorinha. Lambeu-a, linguado. Levantou-se galante, espadarte. A mariposa, toda balança-rabo-do-rio-negro, se foi, à frente, cheirando a praia e a laranjeira, tempera-viola.

 O gatuno, bicudo, só pensando na pipira-vermelha dela. "Hoje tem tico-tico!", rosnou galhofeiro, saindo, mineirinho, no pixoxó, cofiando o bigodinho. Os outros pardais, caboclinhos, curiós, pregos, traíras, vira-bostas, só assentando os olhos e assobiando: "Tiziu!". O madraço repetiu alto, rouxinol, sargento, Garibaldi: "Vamos Mariquita-boreal! Minha graúna! Vamos pro pula-pula!".

 O ladrão, zonzo, tartaruga, naquele bode, no sossego de hipopótamo, jiboia, empurrando a calipígia cutia, toda quero-quero, ao abatedouro, já aprontava a ferroada, o coice! Quando já dava as costas, o mandrião, pintassilgo, ouviu um um urro, relincho, um frufru das lebres, outras perfumadas arraias, o alvoroço das rolinhas.

 Veio o pio! Na picada rugiu... um caruncho lhe mordeu a perna. A larva ardia, subia-lhe uma dor, o fogo da lacraia pela coluna. Formigou. Empacou. "Burro! Jumento!", mascou do pensamento, irado. "Porra! Deu zebra!', fitou suando de esguelha o serpentário que desferiu o veneno, naja. "Fedeu! Os gambás!", fisgou na hora. A polícia-do-mato. Os chimpanzés. Tombou entre piabas, socos, tambaquis, muriçocas, pontapés. O sangue na colmeia do corpo descia, mel, vinhoso. Até que apagou, cobrindo buraco da toupeira...

 Ao acordar, de noite, dolorido, tingido de taturanas, gritou pra falar com o cardeal: “Cousa corriqueira.”. Tentou pagar o mico, o bagre, o besouro, suborno, mas foi em vão. Fremiu vespeiro. Tomou um coró na fuça do orangotango fardado. "Aqui não, gafanhoto!", lhe babou, zangão, o cabo-verde, o gorila. A partir daquele dia, na companhia de baratas e ratazanas, mesmo assustando a carniça da solidão, sonharia enjaulado.

 (VFM)

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

QUADRA



Quer estar comigo a sós.
amarrar com pouco vigor
a fome de quando o amor
se dobrar perdido em nós.

VFM