quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

MICROCRÔNICA POLÍTICA


Missiva

"Cara Dilma, quero participar da festa da firma e quero tudo na faixa".
Ass: Michel Temer

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

QUARTEIRÃO


Ela resolveu dar uma volta no quarteirão para desanuviar saudades e pisar poças. Não chovia, mas algo nela pingava: talvez um olhar de muxoxo, uma lágrima sem sombrinha, talvez um poema envergonhado, ou alguma inspiração infantil. O caminho não era longo, mas florido de ocasiões. Ela queria pensar e examinar aquela angústia que devorava seu ar mouco. Entre meio-dia e três da tarde ela se demorou, acho. Confesso que não tinha relógio e deduzia pelo tempo das borboletas no ar. Ela parou para ver a lagoa e os reflexos estridentes dos pássaros, que mergulhavam na água. Eu a vi comendo um pensamento secreto na promoção do refresco das árvores. Eu vigiava de longe toda aquela volta com meu olhar anímico e frouxo, possivelmente melado de encantamento.
Ela resolveu dar a volta no quarteirão desde que chegou alguma lembrança no retrato guardado na gaveta; possível também quando o vento abanou as rosas de plástico no jarro da mesa. Ela disse aérea e reticente: "vou dar uma volta no quarteirão". Todos que estavam presentes e pareciam estar esquecidos no velho sofá acompanharam somente a dobradiça relinchando, a voz que pousava já fraca no etéreo e o vestido azul pungente e ridículo, que sumiu inocente. O cachorro a seguiu até a escada feita com seus seis arquivos de passos; o gato permaneceu voltado para o norte, distante do sol e das risadas dos outros meninos. A igreja em frente martelava algum martírio ou salvação com a mão de Deus naquela hora de despedida.
Ela ia em passo de balé, verdadeira e calada na sua existência poética. A sua juventude rebelada se perdia no rosto lívido da vizinhança e no barulho provocativo dos bares. O que tanto lhe afligia o riso? Que indomesticável entardecer se abatia nos teus cabelos? Nesses meus pensamentos difíceis eu a perdi. Corri por todos os lados, perguntando a todo comércio, e nada dela. Sofri de cansaço e de desafinada dor. A sua ausência ainda me cabe relembrar. Eu creio que a amava, acho que por causa do meu jeito piedoso de querer achar sempre um final feliz pra tudo.
Resolvi voltar depois de muito molhar as roseiras com minhas inquietações. Quem sabe ela já tivesse regressado? Caminhei conjugando o tempo e escandindo o número das casas. Quando cheguei ao ponto de partida ela não tinha voltado e a casa não estava mais lá. O que restava era um anúncio de uma famigerada construtora. Estranhei o privilégio de envelhecer.

Ela ainda é moradora das minhas distrações e vive a dar voltas no meu quarteirão. E eu e ela estamos no caminho certo.
(VFM)

AINDA


ainda, sim, há luz
na boca que voltamos
para queimar a língua,
naquele último trago
do silêncio.
ainda, sim, há luz
para buscar palavras,
recusadas em cinzas,
e que dão gosto
de dizê-las sem sal.
ainda, sim, há luz
nas tuas mãos abertas
para construir a caligrafia
e o caminho mais curto
para o nada.
ainda, sim, há luz
num pedaço de vidro
ou no punhal duma sombra
em que os relógios dizem
as horas claras.
ainda, sim, há luz
determinando o destino,
em nó de profecias,
para sobrar em tua casa
manhãs gigantes.
ainda, sim, há luz
nos segredos fingidos
e no céu que escrevo
sobre árvores choradas
incendiando o varal.
ainda, sim, há luz
na geografia das paredes,
onde, lançado em loucura,
possamos beijar a solidão
dos amantes.
ainda, sim, há luz
para atestar o desassossego
e estender pelas ruas
a saliva que arde no
improviso da cegueira.
ainda, sim, há luz
para acender todo
o esquecimento,
e dizer que foi a última
lembrança.
ainda, sim, há luz
no silêncio que queima
a boca, naquele
último trago, que
(talvez) voltamos.
(VFM)

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

SOLAR


SUN:
UNS
NUS.

DE NADA VALE


p/ Mariana
antes, perseguido por peixes o rio fosse
para apressar até a praia o orgulho de
um velho oceano, onde abandonei o amor.
no entanto, o rio não é doce e se arrasta
e clama. Sua sobrevivência não tem
mais roupas de banho. é qualquer lugar
de lama. quem tem história deita na lama?
quem te moldou assim afogou sua arte.
esse rio contou tantas viagens com sua
voz suada e íntima. hoje ele se refugia
em duras lágrimas, em triste cerâmica.
agora, de nada Vale, de nada Vale.
ninguém vê mais o rio, nem a cidade.
homens, talvez como meu pai, não vão
mais voltar para pescar suas lembranças.
os olhos içam ameaças, recolhem óbitos.
antes, perseguido por peixes o rio fosse.
agora, de nada Vale, de nada Vale.
a terra é mais segura que a água?
o rio vive dentro de mim quilômetros
e quilômetros de saudade, e não é
mais doce chamá-lo, são margens tóxicas.
hoje, não o vejo mais. o que penetra
dentro dele são mãos sobreviventes e sujas.
o homem mergulha em sua própria morte.
água vida, água limpa. de nada Vale.
adeus, Mariana, minha filha, minha casa,
minha alma e minha lama.
agora, de nada Vale, de nada Vale?!
(VFM)

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

FRASE


Amor não é aquilo que te deixa com cara de bobo, o nome disso é espelho. O amor é outra coisa.
(VFM)

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

MICROCRÔNICA MINEIRA


A triste cidade de LAMariana: uma terra coberta de história. Lugar rico em escavadeiras e lágrimas.

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Dia do Professor


- Fêssora! Eu não respondo a chamada porque estou sem crédito.

CONTOTIDIANO


telefone não toca. ele esperando, comendo os sabugos das unhas. ela disse que ligaria cheia de convicção e entusiasmo. duas doses de conhaque. o pé tremulando. pernas cruzadas, bandeirola, biruta, ansioso. uma hora depois do combinado telefone ulula. era engano. a vendedora de telemarketing tinha a voz igualzinha, mas o plano não lhe atendia.
(vfm)

terça-feira, 13 de outubro de 2015

AFLORISMO


A saudade é como criança: faz birra porque quer ficar acordada.

DECOTE


Pipilante o decote, primeiro prazer dos olhos que aceitam com delícias cair naquele abismo. Aquelas duas taças servindo a você um brinde róseo e rígido e ereto, doce pudim sem sutiã. Mordiscava a juventude aquela fruta? Pássaros frenéticos montavam ninhos naqueles dois vulcões? Algum poeta entontecido afiava o ferrão de um verso? Quem não chuparia? Eu me ofereço. Eu me descerro em teus seios. Duas suplicantes cornucópias cheias de palavrões amorosos. Ahhhh! Aquele decote... Cadeia montanhosa e erógena. Qual porto desembarco minha língua inflando as velas das auréolas? Biquinhos afrodisíacos em flor, entumecidos. Simplesmente um par de carícias prontinho a aceitar ordens. Qual é maior? Perco-me diante desse farol de luz lasciva. Teus seios: Vertigens e palpitações. Duras brasas da violação. Com as mãos em conchas peço que derrame teu leite e prêmio. Ahhhh! Teus seios rendidos, em suspiros, diante do meu batalhão de beijos. Quero romper esses mil véus do orgasmo e do delírio. Voe rasante e se despetale. 

Mas, infelizmente, eles não se mexem e não piscam pra mim. Maldito decote. Terrível odalisca. Que suplício!!!!
(VFM)

DIA DAS CRIANÇAS NO CONGRESSO


Políticos num pega-pega com o dinheiro público:
- Não é jogo de polícia e ladrão!, garantem com suas máscaras galhofeiras.
No entanto, se perguntam cadê os papéis de carta eles respondem no esconde-esconde:
- Gato comeu!
O povo ainda pede: "Stop!", mas na dança das cadeiras continua a brincadeira de rouba bandeira. A diversão é uma salada de fruta: "É ele? É ele?", mas ninguém quer segurar a batata quente, somente passar anel e propina.
O jogo do poder é um cabo de guerra. Xadrez? Nem forca! Fingem de morto-vivo. Eles sempre querem dar as cartas.
Os políticos se acham os donos da bola e no recreio o povo fica de bobinho.
(VFM)

DIA DAS CRIANÇAS


O PMDB tá cheio de figurinha batida.

FRASE


A saudade de ti me aperta: fecho éclair.

AFLORISMO


Não estou chorando é só o calor em te ver.

PALÍNDROMO DE VERANICO


Reler rola calor: reler.

MICROCONTO


- Professora!
- Sim, Levy, o que foi?!
- O dólar cai na prova?!

MINICONTO


Dolores
- Quanto VC cobra pelo serviço?
- Na Real, senhor, $4 por minuto.
- Qual seu último trabalho?
- Do-lar.

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

CONTOTIDIANO


- Geraldo! Isso são horas de um homem casado chegar em casa?
Ele na porta, soluçando conhaque, gingando:
- Eu nem fui ainda.
E deu meia-volta e saiu cantarolando.

AFLORISMO


A saudade é uma espera com relógio atrasado.


(VFM)

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

CONTOTIDIANO


Ela toda cristã. Cruzinha dourada caindo entre os seios pontiagudos. Devoção angélica. Ele, descrente, sonhava em ficar mais perto daquele Jesus.

CONTOTIDIANO


Ele pedia de tudo, confessava para a amiga:
- Um tarado! Agora sei o que é um anjo.
(VFM)

HAIKAI


O pouso do sanhaço
Será porquê?! Pena,
Chuva ou abraço?!

CONTINHO


Chegou na zona e pergunta de pronto pra gerente:
- Qual a senha do WiFi?
- Pinto mole não entra.
- Tudo junto?
A gerente com seu sotaque de delícias:
- Tudo grande.

CONTOTIDIANO


Cigarrinho no dedo, fumegante, brasa comprida e vestidinho curto, curtíssimo. Perninha cruzada com linda penugem loira. Chinelinho, tac tac tac, batendo no calcanhar. À espera, encheu o caderninho com o nome dele:
"Desgraçado!"

CONTINHO


... Ela para a amiga no bar:
- E maquiagem esconde lágrimas?!

CONTOTIDIANO


Enrolou o fuminho no papel da bíblia, pois era o único que tinha na casa da avó. Pedrinho, noutro dia, ainda negou pra avó 3 vezes que foi ele que rasgou a bíblia. Mãozinhas juntas, jurou por Deus.

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

CONTOTIDIANO


Aposentada. Ia assistir a todos os desfiles de 7 de setembro. Como patriota, sonhava arrumar outro militar reformado pra enrolar na cama. "Ai, saudade da dita dura", suspirava com seu uniforme senil, sem dar bandeira.

MICROCONTO


O primeiro versinho que ganhou ela nunca esqueceu:
"A vontade é glande".

Continho


No velório do jovem rapaz as flores do vestido da linda viuvinha davam a alegria aos antigos amigos.

CONTOTIDIANOS


Piriguete. Baixo nível. Shortinho torando a bundinha. Decote umbilical. Casada com o pastor do bairro há poucos sermões. O culto mostrava o dízimo com celulite.

AFLORISMO



Essa coisa de saudade já foi longe demais.

AFLORISMO


Abuso das palavras. Não sei se serei preso ou se estou preso à elas.

HORTIFRUTI


Naquele dia foi abacaxi atrás de abacaxi! Pôs sua batata pra assar. Contou pros amigos o pepino que rolou:
Depois do chefe-inimigo, mandioca-brava, o deixar às moscas, cozinhando no trabalho à espera do cliente, ele jogou palavras e tomates ao léu e saiu dando uma banana pro superior.
O chefe, vermelho, puto, pimentão, gritou pra ele resolver o problema:
- Não fale abobrinha! Chupa esta manga, porra!!!
O rapaz, maduro, quiabo, achando tudo mamão com açúcar, foi justificando o que fez; apesar de ter enfiado o pé na jaca, colocou a culpa na couve flor do dia anterior.
O chefe (maracujá de gaveta) o despediu botando banca:
- Vai catar coquinho, porra!!!
O rapaz, murcho, fim de feira, saiu, naquele dia, cortando cebolas até em casa.

(VFM)

MINICONTO


zzzzzz
Ele comeu mosca sabendo que ela estava dando sopa.

domingo, 23 de agosto de 2015

HAIKAI


Hoje faria um poema,
Mas de tanto poema
Um poema é problema.

HAIKAI


Encheu a cara.
As lágrimas vertidas
Fiado não Sara.
(vfm)

OLHOS OUTONAIS


ontem foi o último dia de outono
em que vi teus olhos.
deles declinavam um rio cheio,
onde eu não consegui
alcançar a margem esquecida.
as rochas do teu sorriso fitavam
meu caminho estreito
de lembranças míticas, quebradas.
"pobrezinho", pensava,
ciente de que o chão varrido pelo vento
não cultivava uma rosa,
diante do sol posto aos banhistas.
neste último dia de outono,
resolvi fazer dos meus braços a
confusão entre o que nasce
nos sonhos das árvores altas e o que
se abandona nos espinhos
apunhalados de desejos e despedidas.
ontem foi o último dia de outono
em que vi teus olhos
recolher o frio no ninho das andorinhas.
elas não fazem verão,
mas a estação de primeira grandeza.
tudo foi ontem, justo
no último dia de outono em que te vi.
(VFM)

TÃO DIGNAS AS GUEIXAS


(inspirado na foto de Nobuyoshi Araki)
tão dignas e miseráveis as gueixas, arrancam 
as âncoras e se masturbam com distinção
indissolúvel: por explosão, por saquê, por vazios.
a tara de ser alguém exótica, masoquista,
amarrando-se aos cordéis de cânhamo
e de purgações. dizem: "ao meu corpo
vamos beber as coordenadas tão dignas
dos marujos, dos jovens mortos".
as bocetas em abcessos e o nutritivo
prazer dos navios que ancoram nas costas.
os seios curtos, espremidos nos quimonos,
e as bocas treinadas para o horizonte.
elas riem-se ao som ridículo dos faróis,
aonde julgam, tão dignas, das catástrofes.
ao nível do mar, como samurais, elas
cortam as ambições de casamentos e
dos que se deixam se abandonar pelo
grotesco e nulo tesão dos não afogados.
a bandeira ainda treme, aberta, a todos,
diante do sol vermelho, que na antípoda
dos olhos se despede, com uma olheira mais,
toda a noite, para a volta ao mar do nada.
tão dignas as gueixas com velas nas mãos,
no amanhecer, que limpam o vário gozo
depois e depois de outro, e não se reconhecem
amarelas, mas apagadas pela solidão tutelar.
(VFM)

Aquiles



esse calcanhar de Aquiles
sempre atrapalhou meu olhar 43.
salto alto nunca andou em nuvens.
quem paga meia em grandes travessias?
pé de atleta não garante olimpíadas.
chulé sobre a flor é um soneto
à contraluz. há joanetes para amar.
há calcâneos que pisam sombras
e flecham caminhos por renovar.
pé ante pé dançamos adágio e fuga.

(VFM)

Na Santa Ceia eu não dividi o pão que o Diabo amassou.

Hoje meu bom humor tirou férias prêmio.

Em casa de cego colorido é queixa.


AFLORISMO


Meu bolso é uma ambulância de plantão: vive a espera que algum entre.
(VFM)

AFLORISMO


Não floreie em jardim de pedras.
(VFM)

segunda-feira, 10 de agosto de 2015


EU ESCREVO PORQUE ME ATREVO!

(VFM)

AFLORISMO


Na fila de transplante eu já troquei de eternidade.
(VFM)

Aflorismo


esse coração que bate na gente é um chicote na veia.

(VFM)

FRASE


eu já dei um jeito na coluna. a vida é que anda de mau jeito.

(VFM)

AFLORISMO


A mesmice é uma novidade mesmo que tenhamos que se encantar com as mesmas novidades.

FRASEADO


Deus está presente em tudo, mas por qual motivo o meu veio desembrulhado?


AFORISMO


Paciência é esperar o barco que nunca atracou em olho que chora longe.

haikai


são nas minhas horas de descuido
que deixo o cuco, no cair da noite,
imprudente, dizer-me: - eu cuido.

DIA DO ORGASMO


1 - orgasmo é aquela coisa de menino com fome que olha a prateleira alta: difícil de alcançar.

2 - - Meu bem, gozar a vida não significa gozar com você.

quinta-feira, 30 de julho de 2015

ANÚNCIO


Mineira, coroa. seios fartos
de saudades
e bumbum rígido. malhada de nuvens.
toda depilada. alto nível.
olhos castanhos e cabelos longos, inocentes.
beija na boca do luar e acompanha
em eventos literários e fugidios.
aceita casais e possui diversas
fantasias. para homens e mulheres
de bom gosto, Nicoly adora
tornar seus momentos agradáveis.
lê dostoievski e tzara.
declama facilmente suas tristezas
e de lambuja faz versos de anúncios pornôs.
(VFM)

quarta-feira, 29 de julho de 2015

ODE-a-BRECHT


o olhar de tabaco e a boca a contar dinheiro.
o desprezo ao público para se tornar público.
propinas de verão para adornar o quarto
com papel de parede de crianças nomeadas
alegres. a mão nunca está sozinha. tem dedos
que aprenderam facilmente a escrever:
"de que serve a bondade?". arrancam giestas
e dão comando ao motorista. erguem sorrisos
cimentados de agruras; pontes supérfluas
para caminhos de um mau negócio. o povo?
o povo vê a construção de obras duradouras
para o nada. e os contratos dão ao povo uma
máquina eficiente para projetar a sua fome.
(VFM)

meus olhos, sabedores de viagens, são cometas apagados que carrego comigo.

segunda-feira, 27 de julho de 2015

DIA DO ESCRITOR


papéizinhos amassados e espalhados pelo quarto. o miúdo em êxtase todo dia. várias vezes. mãozinha infrene. a mãe toda-toda achando que ele ia ser escritor. nos papéizinhos o nome dela colado com sentimentos.
(VFM)

CONTOTIDIANOS


(p/ Walter Ianni)

16 - radinho. música alta. acordes reverberando nos cômodos. patraozinho chega a pouco. "minha putinha rampeira, empina a bundinha, põe de lado a calcinha suada", ela recorda a fala da última vez, serelepe. cedo tinha já friccionado a almofadinha de jambo, molhadinha-molhadinha. alfazema depois e creme de jabuticaba pelo corpinho mimoso. seios durinhos, durinhos. biquinhos estourando florescência. ai, waltinho, ai, waltinho, ria sozinha lavando a louça e os desejos. água fria. tingiu os pelinhos da perna e raspou como ele gosta a vulva linguaruda. patroa fora com as crianças. ai, waltinho, ai, waltinho! ele chega. camisa aberta, uniformizado. pede janta sem beijinho. tapinha na bunda. enfia dois dedinhos e cheira. vai dormir sem conversar. ela desolada. bocetinha pulsando, inchadinha. perdeu a novela e a cena final com seu galã preferido. dorme o radinho choramingando, baixinho, baixinho.
(VFM)

A língua afia a faca. A língua corta conversa. A língua pede um fiador. A língua se fia à boca, inquilina.

(VFM)

HAICAI


não se amedrontem:
quem tem medo do futuro
mal dormiu ontem.

(VFM)

haikai


barcos intranquilos
no mar do esquecimento:
só ventos a ouvi-los.

(VFM)

AFLORISMO


Amigo é aquele livro inseparável que sempre está presente em nossa estante, onde guardamos também fotografias de silêncio, brinquedos que murmuram sua infância e aquele frágil e fabuloso relógio: o coração.

PARA VÓ BERNA!


quem não morre não acontece.
há saudades por fazer no crediário.
risos para vender às festas santas
por rezas costumeiras e delícias.
somos de sambas, filhos e chão
de barro e curiosidades e zinco.
tenho vícios em flores e lembranças,
em tuas palavras sem troco,
anéis, como casamentos e nudes
de deusas favoráveis aos vazios.
quem não morre não acontece.
k estou eu funcionário de L sem
décimo terceiro e enfeites que
ocupem metade da minha solidão.
há uma cerimônia. eu choro
comendo pipoca como dias e vejo
meu filme o seu filme nosso filme
obscenos, sem guarda-roupas,
e a realidade do mundo no banco
com chiclete, mão boba, sólida,
me fazendo cócegas perpétuas.
quem não morre não acontece.
ai de mim! constantelongamente.
nossas risadas não estouram mais.
hoje faturo o infinito, em poucas notas,
e sei que empurro, distante, triste,
o carrinho que, em nossos pés íngremes,
abertamente, fortalece o sabor do sol.
(VFM)

quarta-feira, 15 de julho de 2015

MINIDICIONÁRIO DE UM BOCÓ


NOSTALGIA: Não sei o que é, mas aceito ver o replay.
SALÁRIO: o começo do fim do mês.
TRÂNSITO: coletivo de buzina.
OPOSIÇÃO: é um espelho ao contrário.
APLAUSO: mata-moscas do tédio.
CAMISINHA: coleira de um campeão.

(VFM)

sexta-feira, 10 de julho de 2015

AFLORISMO


Mordomia é saber que invariavelmente sempre vai haver alguém pra carregar seu caixão.
(VFM)

Soluço


A noite é frágil pra quem não
Chega quebrando as garrafas
Que ninguém lamenta.
A noite é frágil se não
Acorda a manhã sem antes
Derramar no chão a sombra
De uma marca barata e sonora.
A manhã sempre soluça na gente.
Ainda bem que o sol, bêbado,
Ressuscita na desesperança.
O homem vive sua previsão
Na ressaca de um bocejo
Trágico, pálido e heroico.

(VFM)

quarta-feira, 8 de julho de 2015

AUTO-EPITÁFIOS


1
Visto assim de fora, eu preferiria outras flores para viagem e menos protetor solar.
2
Visto assim de dentro, esse povo aí que chora pode buscar pra mim um copo d`água e falar mais alto, pois não escuto com esses algodões as lisonjas.
3
Visto assim...? que alfaiate foi esse que não fechou a sentença da minha braguilha?
4
Visto assim do buraco, paguei os vermes para me comerem em parcelas. Esqueci minha carteira no túmulo ao lado.
5
Visto assim do além, aqui o salário é mais alto pra estagiário no inferno.

quinta-feira, 2 de julho de 2015

REDUÇÃO



Sou a favor da Redução do medo
que vemos por vezes em todo reflexo do enigma.
Sou a favor da Redução da corrupção,
na qual alguns prosseguem acendendo seus
encargos no prédio da frente com charutos.
Sou a favor da Redução do preconceito 
que pelas ruas transfigura os gestos em centelhas.
Sou a favor da Redução da desigualdade,
este abismo atravessado no corpo e onde não há
persianas, mas tolas palavras para cobrir.
Sou a favor da Redução da guerra
e do seu fim, mas infelizmente há olhos que não
coincidem, veem peixes como pedras 
e são poucas as mãos para jogar.
Sou a favor da Redução da fome,
da erradicação, esse monstro que se debruça 
no sexto andar dos estômagos e grita 
nas bocas esquecidas.
Sou a favor da Redução do abuso de poder,
bicho escancarado nos paletós e com sorriso necrológico.
Sou a favor da Redução do ódio
para que possamos devolver aos pensamentos opacos
uma possibilidade de amor em pedacinhos de ventos.
Sou a favor da Redução do analfabetismo, 
pois quero que todos saibam investigar o alfabeto e
colocar em sonhos anônimos versos impossíveis.
Sou a favor da Redução da morte, 
seja sobre a criança perdida na madrugada magnética,
seja sobre homens e mulheres em suas travessias.
Sou a favor da Redução da injustiça,
vulto que persegue os fracos e que acredita ser o horizonte
a guilhotina e o machado de todos.
Sou a favor da Redução dos idiotas, medíocres, vis,
que carregam em seus ombros da noite o vandalismo, 
o desrespeito, a queimada, o desprezo, o morticínio, 
a mentira e esquecem que vivem sobre o mesmo chão
em que nasce sua sombra e no qual o sol faz grande,
mas também reduz e finda. 

(VFM)

quarta-feira, 1 de julho de 2015

sexta-feira, 26 de junho de 2015

AFLORISMO


O amor não é isso que fica sempre perturbando sua cabeça, o nome disso é caspa. O amor é outra coisa.

(VFM)

FRASES QUE PODEM TER SIDO DITAS 3


- Capitão! procurávamos uma praia de nudismo?
(um marujo para Pedro Álvares Cabral ao avistar o Brasil)
- Para de fazer gracinha pras visitas! Se falar algo ele faz um draaaaaama.
(A mãe sobre Shakespeare para uma megera visita)
- Senhor, eu trouxe o envelope que você pediu pra carta!
(Um soldado ao entrar de volta no gabinete para Getúlio Vargas )
- Eu quero ir no carrinho bate-bate!
(Henry Ford fazendo birra ao chegar no parque de diversões)
- Pode soprar meu olho? Entrou areia.
(Quéops quando contemplava a construção da sua pirâmide)
- Eu já te falei! Você não muda. Você colhe aquilo que planta.
(A avó de Gregor Mendel quando este voltava chorando sujo de barro)
- Pode tirar esse sorrizinho da cara. Preciso terminar esse retrato.
(Leonardo da Vinci para Monalisa após ele tropeçar e cair em cima de uma lata de tinta)
- Agora não é hora de ir no banheiro, pode baixar essa mão.
(A professora severa de Hitler ao vê-lo insistente com dor de barriga)
- Vem cá que eu pinço a sobrancelha pra ti.
(Uma amiga para Frida Kahlo antes delas se arrumarem pro baile)
- Professora, posso falar rapidinho uma coisa?
(Fidel Castro durante a aula de educação moral e cívica)
- Amiga, esse cara aí não larga do meu pé. Vive atrás de mim com uma conversa fiada...
(Uma dama voluptuosa sobre Paulo de Tarso)
(VFM)

terça-feira, 23 de junho de 2015

CEDO OU TARDE


mais tarde começa
o silêncio a arrecadar
as bocas e os copos
de cachaça, resignados.
não demoraria a sair
dos bolsos as mais
simples frases da infância,
desastradas.
as mãos sairiam sujas
do bolso e seriam
esfregadas nos olhos de
vida noturna e, ao
limpá-las,
nos lábios fajutos ficariam
presos dois litros
de uma poesia ridícula.
assim, abriríamos, mais cedo,
um sorriso amarelo
de fracasso.
(VFM)

quinta-feira, 18 de junho de 2015

quarta-feira, 17 de junho de 2015

FRASES QUE PODEM TER DITO 2


- Acho que pintou um clima entre nós dois.
(Pablo Picasso)
- Droga! Detesto ficar de castigo em casa.
(Pablo Escobar trancafiado no quarto)
- Cara, Você parece um personagem de desenho animado. Mó comédia!
(Um colega de sala para Walt Disney)
- Por que você nunca olha nos meus olhos quando falo com vc?
(Simone de Beauvoir para Sartre numa DR)
- Sério, você me mata de rir.
(Júlio César para Brutus após uma piada sobre traição)
- O tempo que fico te esperando arrumar não é relativo.
(Albert Einstein para sua esposa que tranquilamente se maquiava)
- Amor! Comprei o carro que você tanto gosta: o Impala.
(A esposa sorridente para Conde Vlad Tepes Drácula)
- Eta moleque esperto. Dá nó até em pingo d`água.
(A mãe para Moisés que sempre dava desculpas pra não tomar banho)
- Dá pra apertar o décimo oitavo andar pra mim, por favor. Eu não alcanço.
(Alexandre, o Grande)
- Sai logo desse chuveiro! Para de cantar que sua vó tá dormindo!
(A mãe de Elvis Presley batendo na porta)
- Agora ele deu pra conversar com seu amigo imaginário. Diz ele que se chama Inconsciente.
(A mãe de Sigmund Freud para uma comadre durante o chá)
- Esse aí qualquer coisinha ele vira os bicho!
(Um colega de bar sobre Charles Darwin)
- Essa menina, viu?! É fogo! Um dia ela vai aprender.
(Uma diretora de escola sobre Joana D`arc)
- Chega aqui em casa. Traz umas cervejas. Hoje vai passar na TV uma luta de classes.
(Karl Marx para Engels num domingo modorrento)

*VFM*

terça-feira, 16 de junho de 2015

FRASES QUE PODEM TER DITO

Inspirado em Paulo Mendes Campos


- Hora de acender as velinhas e fazer o pedido.
(Uma vizinha para Nero)

- Hoje o almoço é por minha conta!
(Jesus Cristo)

- E lembrar que meu almoço era só corvos e nada mais. Agora, nunca mais, nunca mais!
(Edgar Allan Poe)

- Podem entrar de 4 em 4.
(Calígula na sua festa de despedida)

- Eu não sei tocar surdo!
(Beethoven ao ser convidado prum pagode)

- Tá achando que sou fraco, ora?! É run hein?!
(Bukowski para o garçon)

- Hoje estou rouco.
(Dom Pedro ao sair do karaoke na madrugada do dia 7 de setembro)

- Não adianta me ligar, esqueci o telefone em casa.
(Bilhete deixado por Graham Bell a sua esposa)

- Mãe! Você não pagou a conta de luz de novo?
(Thomas Edison)

- Para de jogar aviãozinho durante a aula!
(Uma professora para Santos Dumont)

- De novo apanhou na escola?
(A mãe de Stalin ao vê-lo voltar de olho roxo)

- Tia! To com fome.
(Napoleão ao entrar no shopping com a mão na barriga)

- Vamos brincar de cobra-cega?
(Cleópatra para as amiguinhas)

* VFM*

AFLORISMO


Aporia de uma ampulheta ou dúvida de um cronômetro:
- Se o tempo passa rápido ele corre perigo?

segunda-feira, 15 de junho de 2015

sexta-feira, 12 de junho de 2015

DIA DOS NAMORADOS


A Barbie não sabe pra Ken dar.

(VFM)

DIA DOS NAMORADOS


"Trago seu amor de volta em 2 maços".

O Nariz


Observar teu rosto de giz,
Algo que te descreve e habita,
Adereço que te faz bonita: 
Uma joia? A boca? O nariz!
Perfeito traço, altivo cume,
Exposto a tragar o sentido
Do meu amor ainda em vidro,
Que sonha em te dar o perfume.
Serei a flor, não o pólen da mentira,
Um aroma que não se esconde,
Um vento da tarde - puro sândalo -,
E que meu cheiro não te fira.
Caso teu nariz procure onde,
Que ele não cheire o escândalo.
(VFM)

quarta-feira, 10 de junho de 2015

haikai


Cândido tem alguém que é?
Ó Deus! Com o dízimo
Compro um livro de Voltaire.
(VFM)

AO VIVO


em frente à TV
o garoto trancado
no apt. 901,
com a luz azul nos olhos,
via aquele mar doente
de estrelas ser
um céu funesto.
era o seu programa
ao vivo preferido
para matar as
andorinhas e
a si mesmo como
tolo telespectador.

(VFM)

segunda-feira, 8 de junho de 2015

quarta-feira, 3 de junho de 2015

MICROCRÔNICA DE CHUTEIRAS

Confederação da Bandalheira Futebolística - CBF

Foi dado o pontapé judicial! A marcação acirrada do FBI entrou de sola no Brasil e o cartão vermelho ficou estampado na cara dos centroavantes: Marin,Teixeira e Del Nero. Não adianta limpar a merda agarrada nas travas das chuteiras, antes de entrar em campo, pois mutreta não sai. O "Patrão Fifa" perdeu o patrocínio. Agora, nesse novo campeonato a PF entrega a taça ao time Mão-Leve: as Algemas! No xilindró, o trio expulso das 4 linhas fica a observar a Justiça na arquibancada a gritar: Segue o jogo! Ansioso, o torcedor brasileiro, vestido com a camisa da lei, espera que o juiz apite a vitória do povo. Possamos assim gritar GOL e comemorar a justa punição!

(VFM)

MINICONTO


O Boticário
O perfume do pastor: fé de evangélico.

(VFM)

VEM DA LUA


Ah! vem da Lua a minha sorte.
Vem, amiga! Vem, meu amor!
Qual poema te conforte
Pra você assim não se pôr?
Ah! vem da Lua altos mares
E o lume que incendeia.
Crescente pelos altares
E cheia em nossa aldeia.
Ah! vem da Lua minha vida,
Espelhando todos os ares,
Em uma luz anoitecida.
Há (eu sei) ouros solares,
Mas mais vale o que sou:
Prata que não se apagou.
(VFM)

terça-feira, 2 de junho de 2015

NÃO ME MASTURBO POR MAL


não me masturbo por mal.
somente faço três desejos
com vontade de pedir mais,
masssageando minha inuti
lidade diante do poder que
sempre pede mais e mais.
não me masturbo por mal,
mas tenho que aliviar a ten
são entre esses países tão
conflitantes com tesão de
matar, pois quer também
tirar o peso das propinas
e limpar fluidos roubados.
não me masturbo por mal,
porém vivem a gozar de
mim, homens e mulheres,
que não fazem nada e en
golem a porra toda do fato
de estar tudo errado assim.
não me masturbo por mal.
é o jeito de me sentir bem.

(VFM)

segunda-feira, 1 de junho de 2015

UMA DOSE SUICIDA


um copo se suicidou no bar enquanto
Nietzsche palitava os dentes e retirava
do gasto molar a falta de sentido na vida.
gozando daquele fato à sua frente, como
um fenômeno de uma sociedade marcada
pelo apanágio do individualismo, Nietzsche
franzia o vasto bigode ainda sujo de feijão
e escutava, com seu ouvido indomado, a
solidão de uma mosca. "sem a música a vida
seria um erro", reflexionava diante do seco
estalo em ré sustenido do copo suicida.
o medo se deitava no rosto dos outros
clientes, enquanto o garçom servia mais
uma dose cavalar e justa de campari a
Nietzsche. para ele o copo era um imane
bunda-mole, mas sabia que foi a vontade
para atingir a autorrealização do seu destino.
alguns homens compadecidos acorreram
ao suicida e foram recolhendo os cacos da
condição humana. não foi fácil recolher
as pontiagudas certezas e não se ferir,
ademais, com as incertezas. quando
conseguiram recolher o copo que morreu de
uma maneira orgulhosa, já que estava cheio
de mentiras e embriagando diversos covardes,
e não vivia de uma maneira orgulhosa, indo
de mão em mão, sem uma epistemológica alegria,
resolveu suicidar naquele momento oportuno.
Nietzsche tossiu algumas contribuições, antes de
acender o cachimbo, encobrindo seu pensamento
alto: "perdido seja para nós aquele dia em que
não se dançou nem uma vez! e falsa seja para
nós toda a verdade que não tenha sido
acompanhada por uma risada".
Encetaram as preces ao seu lado e as bundas
amáveis e interrogativas das desconhecidas
respostas esquentaram o ambiente daquele
sórdido bar. transeuntes que passavam por
perto, indefesos e feridos no que deviam
acreditar, perguntaram o que havia ocorrido.
"um copo se suicidou no bar", lastimavam
os presentes cristãos. Após elucidado "o nascimento
da tragédia", uma senhora mais sestrosa bate
no ombro apolíneo de Nietzsche: "qual o nome
da vítima?". ele, orgiástico à indagação, intoxicou
o ar caliginoso com sua resposta: "zaratrusta!",
e continuou seu brinde à morte como uma festa.
a oração prosseguia e o nobre filósofo terminava
sua bebida sanguínea, delibando a baco seu
olhar eterno e explicitamente barato. Nietzsche,
cansado da latomia, pediu a conta e deixou os
10% para que o suicida pagasse. se despediu
com um aforismo exaltado e um olhar catatônico:
"até deus tem um inferno: é o seu amor pelos
homens". O garçom, sem muito entender aquela
figura exótica, ficou a observar Nietzsche sair com
sua fresca risada, desinfetando a velha moralidade
da religião, com sua farda de super-homem.

(VFM)