quinta-feira, 30 de julho de 2015

ANÚNCIO


Mineira, coroa. seios fartos
de saudades
e bumbum rígido. malhada de nuvens.
toda depilada. alto nível.
olhos castanhos e cabelos longos, inocentes.
beija na boca do luar e acompanha
em eventos literários e fugidios.
aceita casais e possui diversas
fantasias. para homens e mulheres
de bom gosto, Nicoly adora
tornar seus momentos agradáveis.
lê dostoievski e tzara.
declama facilmente suas tristezas
e de lambuja faz versos de anúncios pornôs.
(VFM)

quarta-feira, 29 de julho de 2015

ODE-a-BRECHT


o olhar de tabaco e a boca a contar dinheiro.
o desprezo ao público para se tornar público.
propinas de verão para adornar o quarto
com papel de parede de crianças nomeadas
alegres. a mão nunca está sozinha. tem dedos
que aprenderam facilmente a escrever:
"de que serve a bondade?". arrancam giestas
e dão comando ao motorista. erguem sorrisos
cimentados de agruras; pontes supérfluas
para caminhos de um mau negócio. o povo?
o povo vê a construção de obras duradouras
para o nada. e os contratos dão ao povo uma
máquina eficiente para projetar a sua fome.
(VFM)

meus olhos, sabedores de viagens, são cometas apagados que carrego comigo.

segunda-feira, 27 de julho de 2015

DIA DO ESCRITOR


papéizinhos amassados e espalhados pelo quarto. o miúdo em êxtase todo dia. várias vezes. mãozinha infrene. a mãe toda-toda achando que ele ia ser escritor. nos papéizinhos o nome dela colado com sentimentos.
(VFM)

CONTOTIDIANOS


(p/ Walter Ianni)

16 - radinho. música alta. acordes reverberando nos cômodos. patraozinho chega a pouco. "minha putinha rampeira, empina a bundinha, põe de lado a calcinha suada", ela recorda a fala da última vez, serelepe. cedo tinha já friccionado a almofadinha de jambo, molhadinha-molhadinha. alfazema depois e creme de jabuticaba pelo corpinho mimoso. seios durinhos, durinhos. biquinhos estourando florescência. ai, waltinho, ai, waltinho, ria sozinha lavando a louça e os desejos. água fria. tingiu os pelinhos da perna e raspou como ele gosta a vulva linguaruda. patroa fora com as crianças. ai, waltinho, ai, waltinho! ele chega. camisa aberta, uniformizado. pede janta sem beijinho. tapinha na bunda. enfia dois dedinhos e cheira. vai dormir sem conversar. ela desolada. bocetinha pulsando, inchadinha. perdeu a novela e a cena final com seu galã preferido. dorme o radinho choramingando, baixinho, baixinho.
(VFM)

A língua afia a faca. A língua corta conversa. A língua pede um fiador. A língua se fia à boca, inquilina.

(VFM)

HAICAI


não se amedrontem:
quem tem medo do futuro
mal dormiu ontem.

(VFM)

haikai


barcos intranquilos
no mar do esquecimento:
só ventos a ouvi-los.

(VFM)

AFLORISMO


Amigo é aquele livro inseparável que sempre está presente em nossa estante, onde guardamos também fotografias de silêncio, brinquedos que murmuram sua infância e aquele frágil e fabuloso relógio: o coração.

PARA VÓ BERNA!


quem não morre não acontece.
há saudades por fazer no crediário.
risos para vender às festas santas
por rezas costumeiras e delícias.
somos de sambas, filhos e chão
de barro e curiosidades e zinco.
tenho vícios em flores e lembranças,
em tuas palavras sem troco,
anéis, como casamentos e nudes
de deusas favoráveis aos vazios.
quem não morre não acontece.
k estou eu funcionário de L sem
décimo terceiro e enfeites que
ocupem metade da minha solidão.
há uma cerimônia. eu choro
comendo pipoca como dias e vejo
meu filme o seu filme nosso filme
obscenos, sem guarda-roupas,
e a realidade do mundo no banco
com chiclete, mão boba, sólida,
me fazendo cócegas perpétuas.
quem não morre não acontece.
ai de mim! constantelongamente.
nossas risadas não estouram mais.
hoje faturo o infinito, em poucas notas,
e sei que empurro, distante, triste,
o carrinho que, em nossos pés íngremes,
abertamente, fortalece o sabor do sol.
(VFM)

quarta-feira, 15 de julho de 2015

MINIDICIONÁRIO DE UM BOCÓ


NOSTALGIA: Não sei o que é, mas aceito ver o replay.
SALÁRIO: o começo do fim do mês.
TRÂNSITO: coletivo de buzina.
OPOSIÇÃO: é um espelho ao contrário.
APLAUSO: mata-moscas do tédio.
CAMISINHA: coleira de um campeão.

(VFM)

sexta-feira, 10 de julho de 2015

AFLORISMO


Mordomia é saber que invariavelmente sempre vai haver alguém pra carregar seu caixão.
(VFM)

Soluço


A noite é frágil pra quem não
Chega quebrando as garrafas
Que ninguém lamenta.
A noite é frágil se não
Acorda a manhã sem antes
Derramar no chão a sombra
De uma marca barata e sonora.
A manhã sempre soluça na gente.
Ainda bem que o sol, bêbado,
Ressuscita na desesperança.
O homem vive sua previsão
Na ressaca de um bocejo
Trágico, pálido e heroico.

(VFM)

quarta-feira, 8 de julho de 2015

AUTO-EPITÁFIOS


1
Visto assim de fora, eu preferiria outras flores para viagem e menos protetor solar.
2
Visto assim de dentro, esse povo aí que chora pode buscar pra mim um copo d`água e falar mais alto, pois não escuto com esses algodões as lisonjas.
3
Visto assim...? que alfaiate foi esse que não fechou a sentença da minha braguilha?
4
Visto assim do buraco, paguei os vermes para me comerem em parcelas. Esqueci minha carteira no túmulo ao lado.
5
Visto assim do além, aqui o salário é mais alto pra estagiário no inferno.

quinta-feira, 2 de julho de 2015

REDUÇÃO



Sou a favor da Redução do medo
que vemos por vezes em todo reflexo do enigma.
Sou a favor da Redução da corrupção,
na qual alguns prosseguem acendendo seus
encargos no prédio da frente com charutos.
Sou a favor da Redução do preconceito 
que pelas ruas transfigura os gestos em centelhas.
Sou a favor da Redução da desigualdade,
este abismo atravessado no corpo e onde não há
persianas, mas tolas palavras para cobrir.
Sou a favor da Redução da guerra
e do seu fim, mas infelizmente há olhos que não
coincidem, veem peixes como pedras 
e são poucas as mãos para jogar.
Sou a favor da Redução da fome,
da erradicação, esse monstro que se debruça 
no sexto andar dos estômagos e grita 
nas bocas esquecidas.
Sou a favor da Redução do abuso de poder,
bicho escancarado nos paletós e com sorriso necrológico.
Sou a favor da Redução do ódio
para que possamos devolver aos pensamentos opacos
uma possibilidade de amor em pedacinhos de ventos.
Sou a favor da Redução do analfabetismo, 
pois quero que todos saibam investigar o alfabeto e
colocar em sonhos anônimos versos impossíveis.
Sou a favor da Redução da morte, 
seja sobre a criança perdida na madrugada magnética,
seja sobre homens e mulheres em suas travessias.
Sou a favor da Redução da injustiça,
vulto que persegue os fracos e que acredita ser o horizonte
a guilhotina e o machado de todos.
Sou a favor da Redução dos idiotas, medíocres, vis,
que carregam em seus ombros da noite o vandalismo, 
o desrespeito, a queimada, o desprezo, o morticínio, 
a mentira e esquecem que vivem sobre o mesmo chão
em que nasce sua sombra e no qual o sol faz grande,
mas também reduz e finda. 

(VFM)

quarta-feira, 1 de julho de 2015