sexta-feira, 29 de maio de 2009

Destino

Insinuei-me as senis Parcas de como teceriam o fio do meu destino, pois gostaria somente gozar a felicidade. Bramindo a tesoura, cajado negro, na mão, cumpriam a promessa de entregar-me a Hades. Ostentando o horror nas faces do desatino, descobri que o regojizo independe da paixão.

Quis, eu, aliciá-las para que cuidassem do meu fio proscrito, embora, assim, acabarei com qualquer dúvida que o sorriso e o meu sangue túmidos de juventude se esvaiam nos meus erros; talvez por cortes menores, cisões do tempo, levando até meu verdadeiro fim. De nada adiantou. Pouco misericordiosas, elas, senhoras das horas, em uníssono, ceifaram o rubor da minha vida. A dor! Nada mais pude contra o corte rude das três Parcas, que me tiraram três essencias primordiais: o Amor, Felicidade e o Perdão.


(VFM)


Obs: texto achado num monturo de papéis anos guardados, ou possivelmente escondidos.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Etimologia

Olá Caríssimos! Para não perder o costume, novamente posto as hilárias histórias "genealógicas" das palavras. Para os sôfregos dos mistérios dos termos, o Márcio Bueno conta e perscruta a etimologia do nosso vernáculo. Degustem!

Tesão: Alguns dos sentidos são "excitação, desejo sexual; estado do pênis em ereção; pessoa que desperta desejos seuxuais". Assim como "tensão", o termo deriva, por via popular, do latim "tensio", "-onis", do verbo "tendere" (esticar, retesar, distender). Tesão era uma palavra usada correntemente, inclusive na literatura, com o sentido de "força, intensidade; manifestação de violência". Mas, à medida que passou a ser utilizada popularmente com os sentidos relacionados com sexo, foi desaparecendo da linguagem culta, como ocorreu com outros vocábulos de história semelhante.

Testículo: Glândula sexual masculina, ou gônada masculina. Em latim, testículo era chamado de "testis" e, a partir do primeiro século da era cristã, pelo seu diminutivo, "testiculus". Essa mudança ocorreu no latim vulgar, que passou a adar preferência aos sufixos diminutivos. O mais curioso é que "testis" significava "testemunha". Ou seja, os romanos chamavam as gônadas masculinas de tal e posteriormente de "pequenas testemunhas". Devem estar se perguntando por quê, né?! Os testículos eram assim denominados por serem "testemunhas da virilidade", por conseguinte, não tomavam parte ativa no ato sexual, apenas testemunham.


segunda-feira, 25 de maio de 2009

Dédalo

A frase escolhida faz parte do livro "Romanceiro da Inconfidência" escrito pela poetisa Cecília Meireles: Não posso mover meus passos por esse atroz labirinto.


“Não posso mover meus passos por esse atroz labirinto...” Foram as únicas palavras que o nobre Aedo conseguiu escrever. Já madurava por um período secular o desafio, frente aos seus pensamentos. Já tinha ouvido outras histórias sobre o hiato desta vasta construção, formada com dedicação e esmero. “Sê Intrépido”, dizia no portal das suas ideias. Tinha bons motivos para honrar sua competência, pois as escassas palavras se destinavam ao seu maior amor.

A resposta não tardou em chegar, veio em velas brancas, na fronha do mar. “Há de lograr todo o êxito e glória e se notabilizará por seus feitos para a história, amor meu!”. A missiva carregava os olores de uma primavera e a lágrima, como um beijo, pontuava o final do texto.

Não havia escapatória. Imaginava o duelo a se travar, a faina que o aguardava. Zéfiro ciciava em seus ouvidos. Todos os olhos politeístas estavam dedicados a ele. Não hesitou. Muito vagou, entre Cilas e Caríbdis. Sonhava se eternizar assim como outros heróis e poetas de sua pátria. Chegou ao seu destino.

Eis que vislumbra a pugna. Sua amada o aguardava para auxiliá-lo. O medo afagou seu corpo por três vezes. Caminhou em direção as aleias poéticas, arrastando seu enorme escudo da inspiração. Osculou sua musa e partiu. A sorte se esvaia a cada passo. Durou horas perdido. Foi quando o que menos esperava aconteceu. Lá estava a sombra bafejando o seu semblante. Descomunal. Atro. O Minotauro veio, célere, enfurecido, para matá-lo com um só golpe. Errou. Como um toureiro, esmagou o crânio da besta e este beijou o chão e bebeu do seu sangue. O herói estava formado. Voltou através da linha do amor, júbilo. Saiu esbaforido. Foi beijado incessantemente. Venceu seu maior medo.

Regressou a sua terra com as palavras de Ariadne vociferadas no ar: “Venceu. Venceu. Venceu, este é o herói Teseu.”


(VFM)

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Fragmentos e Poemas Memoráveis

Olá Marujos! Para esta semana, volto com a série de panegírico a Literatura. Para quem aprecia, fique a vontade, o blog também é seu. Aos amantes de textos notáveis, este pedacinho que postarei hoje é de um livro muito interessante. Creio que muitos já devam ter começado a lê-lo, mas desistiram no meio durante o percurso linguístico. Tudo bem! Às vezes acontece isso, entretanto, vale a pena terminar o que se começa, principalmente esta obra-prima. Eu indico a leitura da saga da família Buendía.


"Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o Coronel Aureliano Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo. Macondo era então uma aldeia de vinte casas de barro e taquara, construídas à margem de um rio de águas diáfanas que se precipitavam por um leito de pedras polidas, brancas e enormes como ovos pré-históricos. O mundo era tão recente que muitas coisas careciam de nome e para mencioná-las se precisava apontar com o dedo. Todos os anos, pelo mês de março, uma família de ciganos esfarrapados plantava a sua tenda perto da aldeia e, com um grande alvoroço de apitos e tambores, dava a conhecer os novos inventos."


Livro: Cem Anos de Solidão

Autor: Gabriel García Márquez

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Iemanjá

A noite estava crespa,
Com raiva da pálida manhã.
A lua, como um farol, traiçoava
Os passos das sombras distantes,
Olhos pousados na goela de um lobo
E o bafo do vento rasgava-lhe o rosto.

Eis que se avista Ela, tristonha,
Flutuando em sua fronha,
Preenchendo de lágrimas
As vagas sanhudas do mar.
Era Iemanjá tentando suicidar.
Então, uma estrela se arrepiou...
Cadente, e, junto da lua, chorou.

Volte para o mar Iemanjá!
Volte para o mar Iemanjá!


(VFM)

terça-feira, 19 de maio de 2009

Dama da meia-noite

Ela fechou a porta com vagar extremo e se afastou, furtiva, como quem abandona um doente que acaba de adormecer à meia-noite. O serviço estava concluído. Anteriormente, ela esperava a ligação do cliente, ajustava o vestido negro acetinado, o qual modelava sua silhueta de dunas agreste, com curvas acentuadas e íngremes. O cabelo um pouco em desalinho, o batom cintilante na boca, como uma madura fruta silvestre, e o perfume acre, completavam a produção noturna e galante. 20 horas.

O telefone tocou. Era ele. Aguardava-a no seu apart hotel, ansiosamente. Ela se olha, novamente, no espelho. Puxa o vestido mais para baixo, para realçar os seus seios pontiagudos. Toma duas doses de uísque. Lá embaixo o táxi a espera. Confere a bolsa antes de sair. Tudo estava preparado.

Dentro do veículo ela conjeturava sobre os outros atendimentos. Iniciou este ofício havia uns três meses. Tudo por desilusão, sanha e vingança, que com os uísques diários dava uma agridoce satisfação. O motorista, impassível, ouvia as últimas notícias: “A população está alarmada com os trágicos acontecimentos. De acordo com o delegado de polícia, xxxx, todo o contingente policial se encontra espalhado pela cidade. A busca não vai parar...” Ela mal dava ouvidos às desatinadas informações vociferadas pelo radialista. Pelo retrovisor, de soslaio, o taxista jogava um olhar de cobiça. A calcinha branca dela piscava para ele a cada mexida audaciosa das pernas.

Chegou ao local. Pagou e saiu sem dizer nada, lutuosa. Disse ao recepcionista o número do quarto. Subiu no elevador com um senhor senil, bem trajado, jornal a tira colo. A manchete era a mesma anunciada pela rádio. Oitavo andar. Saltou. Quarto 802. A porta estava semicerrada. Entrou e trancou. 21 horas.

O sujeito, calvo e esguio, de roupão bege, ao confrontá-la, oferecia em uma das mãos um copo com o âmbar etílico. Beberam. Ela, solícita, preparava todos os drinques, e se demorava. Esboçava uma alegria entre dentes, forçada. Fazia charme para que ele se embriagasse o mais rápido possível. Quando percebeu a fala pastosa do seu cliente avançou. Beijaram-se. Ele numa sofreguidão desértica. Minutos depois, a cama tinha o aspecto amarfanhado. Lençóis suados. O sujeito plenamente ébrio. Ela se deixava fazer de tudo, numa falaz atitude de prazer. Gozo, solitário. Mais uma dose e um cigarro. O sujeito, esfaimado, dormia profundamente. 00 hora.

Então, pegou o dinheiro na cômoda, olhou para o cliente prostrado, nu, lívido como uma vela. Sorriu satisfeita. Naquele instante ela se deixou gozar. Limpou tudo. Pensava num próximo cliente. Assim, fechou a porta com vagar extremo e se afastou, furtiva, como quem abandona um doente que acaba de adormecer à meia-noite.

No outro dia os jornais anunciavam: “Encontrado morto mais uma vítima da dama da meia-noite. O corpo aparentava como o das outras vítimas, ingestão de grande quantidade de barbitúrico e prussiato. É o décimo quarto cliente a ter seu último dia de prazer. A polícia não tem notícias da assassina. Quem tiver alguma informação, entrar em contato pelo telefone 190...”.


(VFM)

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Sofisma

O mundo, com sua problemática,
Exprime-se em desdobramentos,
Na essência do amor e de intentos,
Meditações duma escolha errática.

Além, vasto, complexo e frágil,
Homem e Natureza - uma cisão!
O montante é de sorte e ágil,
Que do seu trabalho e tensão,

Permite a todo papel de tolo,
Que inventa a ideia de sorte,
(isto é inegável) um dolo
Medido somente pela morte.

O mundo postula o tal do amor.
A sociedade, dada por vária fase,
Constrói-se muito: de dor em dor
E a vida assim se resume, ou quase.


(VFM)



Obs: texto achado num papel rasgado, amassado e um tanto quanto ilegível

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Poema de Aniversário

Vocês devem estar pensando que hoje é o meu Niver, mas não é não! Sou pisciano e nasci no dia 26 de fevereiro (Não se esqueçam!). Apesar disso, gostaria de postar, no dia de hoje, este poema para os meus amigos(as) aniversariantes deste mês, que muito considero. O poema vai para a Cris-Osvaldo(rs), Germinho, Anãozinho, Joyce e Mateusão! Espero que vocês gostem da homenagem.


POEMA DE ANIVERSÁRIO


Ora, ora, Hora, Hora!

Hoje é o dia: Comemora!

Não existe adversário,

E juntando o abecedário,

Tá escrito no calendário:

Hoje é seu aniversário!

Mais um tempo, um ano,

Momento de novo plano,

Momento revolucionário!

Tudo é seu, é prioritário.

Nas palavras do dicionário,

Dentro do seu vocabulário,

Tenha um olhar visionário:

Sonhe! Ao que é embrionário

Se pode virar extraordinário!

As dúvidas no questionário

Da vida são para ti calvário?

Faça delas mais um ideário,

Instrumento de força diário

Para vencer, sem horário.

Tudo é seu, sê temerário.

Você merece muito e vário,

Pois hoje é seu ANIVERSÁRIO!



(VFM)

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Etimologia

Buenas! De volta e com a língua solta, chego para afogar a curiosidade dos famélicos leitores e ávidos por conhecimento. Mais uma vez o Márcio Bueno me contou no seu livro a estirpe curiosa das palavras, achegue-se mais, fique a vontade.

Vintém: Antiga moeda portuguesa de cobre introduzida no Brasil no final do século XVI - equivalia a vinte réis. A conclusão de que "vintém" tem origem exatamente no valor - "vinte réis - é tentadora. Mas a explicação é outra. A origem de "vintém" é o português antigo "vinteno", cujo valor correspondia à vigésima parte (um vinteavo) de um cruzado (400 réis).

Xará: O termo é usado no sentido de "homônimo" e também de "amigo", "companheiro". Trata-se de mais uma contribuição dos indígenas à língua portuguesa. A origem é o tupi "xe´rerá", que significa "meu nome".

Té a próxima!

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Reverso

Um só Momento...
No Vento,
L E N T O, L E N T O,
De Alento(.)

Um Movimento...
Violento,
Pigmento,
Dum Comportamento(.)

Um
Fingimento...
Cinzento,
Do Sofrimento(.)

É um
Lamento...
O Complemento
De Autoconhecimento(.)

É um Arrependimento...
O Aposento
Do Pensamento(.)


(VFM)



Obs: Para ser lido de cima pra baixo e de baixo pra cima.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Fragmentos e Poemas Memoráveis

Opa, opa! Não posso deixar de fazer barulho para esta série. Aos amásios de plantão da Literatura, o post de hoje trago um trecho de outro livro que me emocionou, tanto pela simplicidade, finura (pouco mais de 120 páginas), mas com uma história sublime, única. Ou seja, não precisa escrever demais para montar um ótimo livro. Leiam!

"A linha começou a erguer-se lenta e cautelosamente, e pouco depois a superfície do oceano agitou-se à proa do barco e o peixe apareceu. Apareceu à tona d'água e parecia nunca acabar. A água deslizava-lhe mansamente pelo enorme dorso. Brilhou à luz do sol. A cabeça e o dorso eram purpúreos e as barbatanas abriram-se, imensas, cor de violeta pálida. Tinha a espádua mais comprida do que um "bat" de beisbol, rematada com um estouque, e saiu da água completamente, tornando depois a mergulhar, suavemente, como um mergulhador. O velho viu a cauda em forma de foice desaparecer e começou a dar-lhe linha."

Livro: O Velho e o Mar

Autor: Ernest Hemingway

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Minha Crônica no Tribuna Lagoana

Ser Novaerense


Gostaria de escrever ou descrever tudo o que vi e vivi dias atrás, quando, passeando por Nova Era, me bateu uma espontânea curiosidade de descobrir os encantos de ser Novaerense. É preciso entender, pois apesar de não ter realmente nascido aqui, minha aventurosa vida muito se segue entre as pedras calejadas de história desta cidade. Mas como definir tamanha condição?

Esta vontade “sociológica” surgiu ao caminhar pelas ruas quietas, por este povo sereno, de olhos mansos, que carregam uma alegria de viver, um claro sorriso e uma bondosa satisfação no coração de ser Novaerense, que tange junto com os sinos de suas igrejas.

O desejo de desvendar as manias de um Novaerense me veio ao visitar o Museu Municipal de Arte e História, que reinaugurou há pouco tempo, mas que contém um passado grandioso, de comprido tempo. Entrei na aconchegante casa, bicolor, ao amável som das tábuas, cada passo, um rangido de época, cada objeto, uma alegoria de outrora. Arreios, livros, missais e adornos sem fim. Era como rever o princípio de tudo. Lá me demorei como se estivesse engomando os séculos de Nova Era, carinhosamente e únicos.

Ao sair do casarão, eis que me deparo com o ápice e “imaculado” Cruzeiro da Praça Matriz e, ao fundo, a belíssima Igreja de São José. Um quadro antigo do rococó mineiro, um pedaço de sonho santo o qual me abraçou, como um parente querido. Ali estava o início da contemplação e entendimento de ser Novaerense. Além do mais, a cultura e hábitos desta cidade são fundamentais para caracterizar os habitantes daqui, cheios de tiques extravagantes e, ao mesmo tempo, peculiares.

Ser Novaerense é uma mistura de presente e passado, experiência e juventude, uma revelação, ou uma nuance complexa de tradições. Ser Novaerense era ouvir do alto falante “A voz livre Ibramar”, o correio elegante de momentos remotos; era também assistir a bons filmes no Cine Ipiranga, dançar no Clube Comercial, cada cavalheiro com seu chapéu de palha. Era “pão” pra lá, “broto” pra cá, que embalavam o carnaval da “Desce Ladeira”, do “Sagradão”, do “Lado de Lá” e “Manjahy”, num mormaço de felicidade; ou sentir o afago da lua penetrando as 44 janelas da Fazenda da Vargem, um holofote mágico. Ser Novaerense era noites de serestas e festas e passeios na Governador Valadares, e por tantas outras ruas quentes de recordação.

Ser Novaerense é apaixonar-se diariamente com o rumorejar do rio Piracicaba, que enfeita e corta a cidade como uma flecha de cupido, fluido e brando, alegre e arrasador. Ser Novaerense é se empetecar no domingo cristão e visitar o Morro do Padre ou a igreja do Rosário, numa devoção ao santo de fé: Gruta, Lagoa, Matriz, de São José!

Ser Novaerense é namorar na Praça da Liliu e presentear a amada com esmeraldas de suas terras. Ser Novaerense é tomar licor de jabuticaba, ou um cafezinho com biscoito de polvilho, ouvindo boa música, conversando com todo mundo. Ser Novaerense é ser um só povo, do Centenário, Santana, Serra, Pedra Furada, Sagrada Família, Manjahy, Capoeirana, etc. etc.

O costume daqui é assim e foi como aprendi, com um nato e orgulhoso Novaerense: meu avô! Tenho muito que agradecê-lo, pois com ele aprendi tudo o que sou. No mais, para ser Novaerense deve-se ter duas noções: a da Beleza simples e indizível da cidade e a noção de amá-la para a vida inteira.


(VFM)

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Mais MINI CONTOS

1- O bêbedo

Tinha inúmeras garrafas no seu barzim,
Todas preenchidas com lágrimas.
Assim era o seu dia, embriado de saudade.


2- Verdadeiro Amor

Lá estava ele a esperar, com rosas e chocolates.
30 graus a colorir seu rosto e a derreter os chocolates.
As rosas já se encolhiam, secas. Horas, quedo, ficou.
O Amor Verdadeiro demora a chegar.


3- Microscópio

De perto via o micróbio,
Claustrofóbico.


4- Casa Nova

- Amor, comprei uma casa nova pra gente. O lugar é bem simples, mas é tranquilo e tem muitos pássaros.

Levou-a para conhecer a casa que ficava defronte ao lixão rodeado de urubus.


5- Outra Mulher

- Uau! Este seu novo look te deixou uma outra mulher.

- Mas agora eu sou mesmo. Não sou mais mulher do Afonso, agora sou do Osvaldo.


6- Amar é...

Aguentar o sabonete cabeludo.


7- Eraser

Todo dia comia um pedaço de borracha,
pois queria apagá-la do seu coração.


8- Praça 7

- Mãe!!! Você me prometeu um pirulito,

Disse a criança em prantos.


9- Rugas

- Ora, isso não são rugas, são anos de muito sorriso.



(VFM)

terça-feira, 5 de maio de 2009

Mini Contos

1- O Corcunda

Hobbys: amarrar os seus sapatos e abrir e fechar braguilha.


2- Escritor Esquizofrênico

Parou de escrever, pois estava sendo perseguido pela folha em branco.


3- O Sonâmbulo

Há meses não conseguia dormir,
Ouvia barulhos e gemidos.
Descobriu que morava num motel
Ao lado de um canil.


4- O Cozinheiro

- Nossa! Não sabia que estava preparando um jantar para a gente, baby!

- Não estou! É que eu moro em cima de um restaurante.


5- A Chorona

- Chora não, moça! Porque você chora tanto?

- Dá pra tirar o carro de cima da minha perna antes?


6- O Poeta ou o Vagabundo

Primeiro rimo.
Depois, bebidas e mulheres.
Trabalho?
Na casa do caralho!


7- Conversa fiada

Quis conversar com a morte.
Fechou os olhos. Ouviu um som.
Deitou-se, então, na linha do trem
E ficou a esperá-la.


8- Pedido Frustrado

Mais um aniversário. Bolo e velinhas.
Pedia todos os anos o mesmo pedido,
Mas nunca era atendido.

- Quero que minha sogra morra!


9- Declaração de Amor

- Eu te amo desde quando eu te conheci!

- Mas quem é você?


10- A Espera da Amada

Quando caiu uma estrela
Colocou-a na boca
Para dar a sua amada,
Em vão!
A lua não saiu hoje.


11- Vampiro Intelectual

- Hoje mordi um esternocleidomastóideo delicioso!



(VFM)

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Rapunzel

Faria para os teus singelos
pés lindíssimas sandálias,
ornadas por várias dálias,
Ó dama dos meus anelos!

Inteiriça trança como véu,
cobrindo o rosto vermelho,
caindo até seu lindo joelho,
Tampava a aflita Rapunzel.

Ela sofria, como eu também!
Num alto fanal da tristeza
Seu pai escondia a beleza
Que dela pulava muito além.

Eu suplicava ao seu genitor,
Quanta vileza naquele ato,
Evitar-me por ser mulato,
Suprimir, amiúde, este amor.

A ela, eu cantava eufônico:
"Jogue as tranças, Rapunzel!"
Caía sua corola, vulto do céu,
Um loiro trigal babilônico.

Neste instante, triunfalmente,
Ela, seduzida, entusiasmada,
Infantil, um pouco angustiada,
Temia. Eu subia lentamente.

Via-a, uma sombra indefinida.
Tamborilava o vivo coração.
Uma lágrima caía de emoção,
Da mulher quase esquecida.

Os olhos, cárceres do medo,
Brilhavam junto com o luar,
Um par de concha a soluçar,
O réquiem, fim do degredo.

Pelas paredes, o meu destino
Mais perto estava, ó Rapunzel!
Dou-lhe um beijo, céu ao céu,
Te bendigo! (que beijo divino!)

Rapunzel se pinta e se tinge,
Rubicunda de graça e calor,
Multicor! Versa, sem temor,
"Amor assim nunca se finge!".

A hora intensa do sol chama
Os dois pombos sonhadores.
Hora de fugir pelos arredores,
Dar fim a este leteu drama.

Dali fugimos pelos caminhos,
Eu e Rapunzel, denodados.
Fomos mui felizes, casados,
E tivemos muitos niños.

...

Rapunzel morreu agora.
A saudade foi-se embora.
Quero outra o mais breve.
Vem cá Branca de Neve!


(VFM)

domingo, 3 de maio de 2009

Fragmentos e Poemas Memoráveis

Buenas! Aproveitando o fim do feriado, coloco no ar a série de textos gloriosos da Literatura. Os anteriores divulguei a prosa, mas neste de hoje, após pensar demoradamente num poema, escolha difícil em selecionar o primeiro, consegui elencar um que muito me encanta. Cogitei postar, talvez, em ordem cronológica, mas a ordem não supera a qualidade dos poetas. Começar com Hesíodo? Anacreonte? Píndaro? Horácio? Ovídio? Homero? Petrarca? Dante? Camões? Vamos aos poucos. Todos terão seu nome aqui, com muita honra. Enfim, o poema escolhido é de um autor que muito aprecio também, Lord Byron, principalmente por seu teor romântico.

Tu me chamas

Em momentos de delícia,
Extática, embevecida,
Numa voz, toda carícia,
Tu me chamas: "Minha vida!"

Sentira, à frase tão doce,
Exultar-me o coração,
Se a nossa existência fosse
De perpétua duração.

Levam-nos esses momentos
Ao fim comum dos mortais.
Ou não saiam tais acentos
Dos lábios teus nunca mais,

Ou, mudando a frase terna,
"Minha alma", podes dizer.
Pois a alma não morre; eterna
Qual meu amor, há de ser.

Autor: Lord Byron - George Gordon Byron, 6º Barão Byron (1788-1824)

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Não!

Não! Digo que não! Não farei deste ambiente um lugar espúrio, olho de serpente, serpentina fora de época, tampouco um buraco para largar tralhas e frustrações de outrem. Chega de desamor. Chega de ilusão. Paixão? Estou cansado desta demanda em mim. Tanto já deste cálice bebi, aja moringa, muito barro apaixonado, simplesmente por prazer. Tolice! Não! Não tenho mais humor ou ironia para sacudir um sorriso em algum leitor. Meu sentido e entendimento atual de humor é torto. Claudico na ideia de felicidade. Pilhérias? Que preguiça de palhaço letárgico. Não! Nem por ser feriado que assim consigo brincar de cócegas. Hoje só amanhã. Quem invadir meu sentimento será um intruso, um indivíduo que não preza a vida. Não adianta me espiar, obliquamente. Não! Não sou ninguém, sou alguém, somente, sem nome.