quarta-feira, 20 de abril de 2016

CANCIONEIRO DO EXÍLIO


Minha terra tem pesares
Onde entoam que sou gagá.
O pardal enlameado de Mariana
Já não caga mais por lá.
Nossos morros mais favelas
Nossas lutas quantas cores?
Nossos sonhos - puxa vida! -
Nossa vida dissabores.
Em ver corrupção - ô açoite!,
Mais e mais no nosso beabá.
Minha terra tem pesares
- Onde? - Em todo o país há?
Minha terra tem horrores
Que de tantas mortes haja pá;
Minha terra não tem Reformas
Onde vive o tal paxá;
Não permita, Deus, essa zorra,
Sem alguma punição não dá;
Sem preconceitos, Conspiradores,
Que o povo é quem manda acá;
Sem que a roubalheira persista,
Onde nós moramos, Saravá!
(VFM)

terça-feira, 19 de abril de 2016

HAIKAI



o que tem passado nem conto.
hoje uso a chave da obscuridade:
o meu amanhã não está pronto.

(vfm)

segunda-feira, 18 de abril de 2016

OS RATOS


os ratos conseguiram dizer sim
com suas barrigas peludas e cheias
de cretinismo, de ironias, algemas
frouxas e risos.
os ratos usaram os seus rabos
para palitarem os dentes tão caros.
os ratos roem roem roem roem
a roupa do rei de roma da presidência.
os ratos não esqueceram de roer a
constituição enquanto cantavam, em coro,
uma ode a todos os charlatões, canalhas
e à ratazana mor chamada corrupção.
os ratos invocaram suas famílias -
ninhada que nos rói e há de roer os bolsos
das nossas calças. eles gritam:
"vamos comemorar, roedores"!
os ratos estão comendo o queijo e
bebem do nosso suor e do nosso sangue.
como são espertos os ratos, sabem bem
desarmar ratoeiras jurídicas.
os ratos são imunes aos venenos,
à democracia. envenenam cada vez mais
ruas e casas. abrimos o esgoto e eles
as bocas os cus para devorarem o país.
pobre dos gatos (talvez também gatunos)
que não dão conta, embora os ratos ponham
na nossa conta o que de nós pilharam.
grandemente danosos os ratos.
pobre dos gatos que dos telhados veem a festa,
utilizando nossa bandeira para cobrir a
mesa de um estado laico. os ratos arrotam
agora a ilegalidade e limpam os bigodes espúrios.
os ratos não estão mortos e mesmo assim
eles fedem a merda merda merda merda
e continuam a fazer mais merdas no país,
nos paletós, nos mocós onde passam.
os ratos acham que vão construir um mundo
melhor, mas se esquecem que lá fora
o povo sonha e sonha e sonha e luta
para exterminá-los definitivamente.
os ratos não querem saber de estado democrático
porra nenhuma. os ratos querem ficar juntos
e regozijarem a farsa e mijarem em quadrilha
para causar mais fedentina e prejuízos.
os ratos devem mesmo se agrupar, assim
conseguiremos mais facilmente matá-los
com nossas vassouras, nosso voto,
nosso bom senso, nossa indignação.
os ratos conseguiram dizer sim,
mas podemos escapar antes deles
corroerem tudo que resta de bem.
Que não prevaleça a violência que governam.
os ratos querem nos enganar com falsas fofuras,
transmitindo doenças mil com suas patinhas de direita
e enterrando as verdades. o sim que eles gritam
é uma peste bubônica para o brasil.
à medida que a noite abria os seus braços para
a esperança, os ratos subiam vorazes ao púlpito
para roubar a cena e gritarem: "sim! sim! sim!
somos indestrutíveis! somos o que somos"!
os ratos querem deglutir o povo e apodrecer
os estimados frutos da democracia. os ratos
(pobre de Deus!) pregam o evangelho e a ditadura
e bebem a água benta e nos colocam a culpa.
os ratos, quando nos demos conta, tornaram
em migalhas nossa liberdade, incitando o tumulto
e almejando devorar nossos sonhos e nos dar
ordem e nos forçar a dizer sim sim sim sim.
os ratos conseguiram dizer sim,
mas nós vamos vencê-los. vamos tapar os buracos
que fizeram. vamos tornar o país um lugar seguro e livre
para dizermos NÃO aos ratos. NÃO aos ratos!
(VFM)

quinta-feira, 14 de abril de 2016

Aracnídea



teias de aranha
no canto da janela.
diviso a montanha
que se debate
antes de ser 
devorada por 
tantos olhos.

(VFM)

quarta-feira, 13 de abril de 2016

NANOCONTO


DIA DO BEIJO
- SMACK!!!!!!!!!!
- Kiss tória é essa de língua?!

GOLPE DE ESTADO


eu a pedi em casamento na hora errada.
em meio a uma crise política
já estávamos em meio a uma crise relacional.
entrementes, alguém pedirá impeachment,
alguém votará a favor disso rindo com seu
charuto entre os dentes de ouro, alguém
há de comprar nossos votos matrimoniais.
eu devia tomar partido, mas ando preferindo
andar trôpego e bêbedo tomando cervejas
e vendo algum dono de bar ou de zona eleitoral
sorrindo pelo meu parco salário mínimo.
moramos na mesma casa em que o médico
frequentemente passeia com seus comprimidos.
calmamente ele vai sussurrar que não haverá golpe.
assim, eu dormirei tranquilo e quando acordar
alguém já terá tomado o meu estado de louco.
(VFM)

segunda-feira, 11 de abril de 2016

Melancolia


Não interrompa a melancolia.
A faca se faz cega de medo
E a mágoa me cortou o dedo
quando o meu olhar não mais te via.
A solidão que me abomina,
Mas cativa o prazer humano,
Faz do passado presente dano
E do futuro carnificina.
Estou só e você já foi minha.
O amor é uma face mesquinha
Por essa caminhada sem data.
Carrego comigo a descrença,
Pois se te procuro sem ofensa
A melancolia vem e maltrata.

(VFM)

quinta-feira, 7 de abril de 2016

quarta-feira, 6 de abril de 2016

segunda-feira, 4 de abril de 2016

ÚLTIMO TRAGO


ela catou uma guimba de cigarro no chão ainda acesa
e deu o último trago. imaginei o gosto de filtro lhe ardendo
nos lábios, tudo por falta de beijos ou sorrisos. eu queria
lhe pagar um drink e dizer pra sentar comigo essa noite.
ela sorriu enlouquecidamente pra mim e veio descalça
calejando ilusões. pediu-me um cigarro e ofereceu
sua porção morna de amendoim por dois reais. comprei
talvez algum sonho futuro, pois meu amor é mais barato
do que aqueles olhos vidrados da noite passada.
ela logo se foi. levou a pedra do meu coração pra fumar
perto de algum anúncio de sapatos femininos.
e se esfumou.
(VFM)

sexta-feira, 1 de abril de 2016

1º de Abril


Mentira tem pernas torneadas e prontas para furtar sorrisos; um joelho bem montado, rotundo, para subir à pique nossos humores, pondo-os em confusão; pelos curtos e claros ou talvez nem tão claros para nossas ações; canelas marcantes a nos dar esperança; coxas vistosas de tirar o juízo e batatas que pulsam, ilusórias, ao seu caminhar galante. Hoje topei com ela em pleno dia do seu aniversário. A língua naquele silêncio oco. Queria dizer palavra a palavra a notícia do meu amor. Mas tudo para ela, na sua pequenez generosa, parecia, assim como ela, Mentira.
E fiquei a mentir toda minha verdade como uma desculpa esfarrapada.

(VFM)