sexta-feira, 29 de maio de 2015

QUADRILHA PALINDRÔMICA


Anita patina, avaro Otto orava, Ada bêbada,
a Rita atira, Raul aviva luar, a Cida dá dica:
Leon ama Noel, Eva assa ave, Natan, o bobo, Natan... 
ande Edna, Anita patina.
(VFM)

quinta-feira, 28 de maio de 2015

quarta-feira, 27 de maio de 2015

segunda-feira, 25 de maio de 2015

sexta-feira, 22 de maio de 2015

através das feridas


através das feridas Sartre
limpava os óculos vazios
para enxergar melhor o
exército de pulgas que
lhe invadia a angústia de
ser. um tal não-sei-quê
ainda sangrava pela pele.
'ele nada é enquanto não
fizer de si alguma coisa',
foi assim q ele coçou os
olhos através das feridas,

enquanto se barbeava
no primeiro sinal de chuva.
Sartre comia lentilhas e
a existência do sabor
era aziaga e subjetiva.
tudo era um projeto do
q somos, assim miava
o gato ao lamber sua
consciência atordoada.
a tristeza das suas lentes
para a miopia da vida
era um problema do ser
e não secava o coagulado
horror da realidade humana.
através das feridas Sartre
matutava se ela vinha
de fora ou de dentro e
se ele devia aceitá-la ou
simplesmente recebê-la.
seu olhar zanaga, suas
inquietudes de verme e
bicho ontológico não doíam
os cortes profundos que
lhe marcavam a alma no
entendimento de mundo.
aquelas feridas para Sartre
lhe faziam imaginar quem
era, e na dura verdade
aquele sangue representava
o seu nada ser.

(VFM)

INESPERADO


Fiz um poema inesperado
E não me agradece.
Pra que compor verso molhado
Se de chuva parece.
Poema curto, inconstante,
Do que costuma ser.
Um pranto equidistante
Escorre ao me ler.
(VFM)

quinta-feira, 14 de maio de 2015

(...)


há m rio correndo
n noite. álcool ns
palvras. há provas
q água s destina
à boca, sex d nós,
c beijos iversos.
(vfm)

os habiantes d grandes 
cidads - nuvens - 
seiam c fome de fracas
noites d pistolas.

(VFM)

alguém há-cai!


na praça: um bastião da caca:
o dinheiro na política voa
há sempre estátua dum babaca.

MINICONTO

Geeks
- Detesto jogo de amor. Não quero ser o chefe da relação.
- Tudo bem, eu já passei no 'Play' dessa fase.

quarta-feira, 13 de maio de 2015

LEITE NEGRO


"Leite negro da madrugada bebemos-te de noite" Paul Celan

Na mesma terra negra, mais negra, a morte ronda
As mãos de quem obrigatoriamente se ajoelha
Ao canto do chicote, com lágrimas destinadas à dor
E à escuridão. O tremor do silêncio é um grilhão
Enferrujado e a terra arada um túmulo involuntário
Para crescer do Branco-dia um círculo infernal.
Leite negro da madrugada bebemos-te de noite.
As bocas em sangue e carne viva na casa domada
E vil, onde as crianças negras choram com o Branco-dia
Que manda roubar o seio materno para beber a dança.
Mulheres de África gritam em puro ferro diante do braço
Rude e insano. A noite galopa pelo corpo e os sonhos
Cravam suas esporas no cabelo negro das procelas.
"Esperai, manhã! Não agite o berço da nossa agonia".
Negros corpos cansados e mais uma nova corrente
Assobia. Leite negro se bebe desde o velho mar
Ao banzo, ao voo do albatroz, ao mastro de despedida.
"Liberta-nos, águas de horror! As ondas também
Gemem um lundum e vamos distantes e não queremos
Migrar". O Branco-dia vocifera nosso destino atiçando
O sol inquiridor e os cães de chumbo. Não se tem saída,
Só os açoites nos abrem os olhos e cingem nosso desespero.
Negras tetas, negros peitos, nus e espantados: vocês têm
Sede e fome de vida? A serpente ri amaldiçoando sua cor,
Cuspindo em tuas sombras de lágrimas e em tuas histórias.
Leite negro da madrugada bebemos-te todos os dias.
Somos míseros escravos. Hoje um morre pendurado
Na palmeira onde lastima um sabiá. Adeus, irmãos da noite!
Adeus, horizonte do leão! Adeus, liberdade e fôlego!
Amanhã muitos outros morrerão. Brinca assim o Branco-dia,
E o povo de África (agora brasileiros) - leite negro - beija
a sua nova terra e se derrama pelo negro chão.
(VFM)

segunda-feira, 11 de maio de 2015

A MULHER IMAGINÁRIA


Para minha mãe e minha avó

É costumeiro eu acordar pensando nela. O silêncio andando pela casa, arrumando o quadro fora de prumo e lavando a louça de dias atrás - realmente é falar dela. Mas não há silêncio, isso é coisa imaginária. 
Eu não emagreci como ela sempre fica perguntando com aqueles olhos de relógio atrasado e com cor de roseiras. Talvez ela não saiba, mas comento dela livremente com aquela boca booooa de iguarias e cheia de palavras bonitas. Não, não estou doente, essa tosse é que engasguei com alguns dos teus fascínios. Ela acha que não percebo o seu cuidado comigo, inspirando e respirando pela casa. O café da manhã pronto e a vitamina para me dá forças diante do amargo caminho da vida. Já, sim, arrumei meu quarto e fiz o 'para casa', apesar de andar com a cabeça em desordem e estou aqui a escrever o que poderia ser perfeito pra ela, mas eu sempre estrago tudo.
Ela é quem me arruma o cabelo - coisas imaginárias - já que tenho muita minhoca aqui dentro - espalhando perfume ao vento e me guarda na carteira perto da nota de dez reais: último trocado! Minha foto vai com ela. Essas coisas de memória me salvam, assim ela não me esquece em loja qualquer ou nos braços dos outros. Acho que falo demais e o calor está aumentando e não consigo falar que ela não é imaginária, dessas personagens dos meus romances, mas confesso que ela está em pelo menos uma letra, pois ela alimentou meu nome e me cevou com grandes sonhos. Eu a amo e digo isso sem dublagem ou legenda com pequenos erros. Foi de repente que descobri isso, dentro de um ou dois drinques. Minto. Foi cumprindo os rituais da balada e retocando o batom naquele espelho engordurado em hotel barato. Minto. Foi devolvendo o sapatinho de cristal que ela esqueceu ao sair ébria do karaoke. Minto. Foi no seu colo de estrelas, nas tuas mãos fluorescentes e no seu zelo de pátria.
Isso, eu a amo e não precisa contar até três que eu já estou indo almoçar. Não, não vou me atrasar para a aula e, sim, já escovei os dentes e tomei banho, mas tem alguns dias. Eu a amo e não engulo qualquer choro, tá bom, tem músicas e livros que me inundam mais. Eu a amo e vou levar blusa de frio e uma garrafa de vodka porque hoje estou com dificuldade de achar um outro amor imaginário e a cidade anda suja e o médico me receitou cuidado com essas coisas de amor. Tudo bem, eu não demoro e volto com o pão e o jornal, se quiser compro aquela revista que ela tanto gosta com propagandas infindas de cremes antirrugas. Eu sempre tenho juízo, tanto que o pessoal do escritório guarda ele para mim lá no almoxarifado. Viu? Isso é prova de amor e olha que não colei.
Pode gritar meu nome, isso, mais alto, mais alto, mas eu disse tudo, tudinho, e não adianta bater, e sei que em casa a gente conversa. No entanto quero aproveitar esse momento, esse dia dado aos encantos e confissões, para dizer que ela não é imaginária, mas eu não me imaginaria sem você: MÃE.
(VFM)

HAIKAI


o dente da lua quando se quebra
a galáxia engorda um vácuo sem fim
e uma estrela de sangue medra.

(VFM)

CINZEIRO


o cinzeiro é um arquipélago
de neblina. Vou de fumaça
e fumo atribuindo às cinzas
o teu nome sujo, assim possa
tossir nos pulmões o gosto 
do meu amor que você
não respira, mas vai
eternamente espirrando,
antes do papel me apagar.

quinta-feira, 7 de maio de 2015

foi aquele pepino que me violou, mãe. ele me profetizou com esperanças verdejantes e me contou, como um anjo, que assim eu chegaria ao futuro. Meu sangue fluiu e uma linha me puxou a rede fazendo com que os cardumes crescessem na terra a primavera do meu existir.
(VFM)

quarta-feira, 6 de maio de 2015

MICROCRÔNICA POLÍTICA


Fico com o coração partido porque não faço parte de panelinhas.

(VFM)

JANELA FECHADA


A janela fechada
É uma estátua que
O vento molda
Com a mão do sol,
Tintas secretas da lua
E a poeira vaidosa
Da chuva que não
Alcançam você.
(VFM)

terça-feira, 5 de maio de 2015

AS CHUVAS ELEGEM AS CIDADES


As chuvas elegem as cidades
Para curar as verbenas,
Mas o contraste é de ferro,
Pó e leões de concreto.
Estão sufocadas as pombas,
As pétalas cansadas e os
Rios esperam anos o ônibus.
As chuvas elegem as cidades
Por se sentirem sozinhas.
Querem elas a companhia dos
Esqueletos e escuras avenidas.
Talvez por isso foram eleitas,
Pois em cada guarda-chuva
De argila há um corpo
Para receber as honras
Em tempos de olhos suicidas.

(VFM)

POEMA VISUAL


segunda-feira, 4 de maio de 2015

BRINQUEDO


Na sua sede de brincar, com os olhos amigavelmente no céu e, hora ou outra, travessos na rua maltratada de sol, ele molhava os lábios rachados de desejo e sorria, como primeiro vento, um pedido à mãe:
- Será que hoje posso brincar de caminhão-pipa?
A mãe consentiu no seu extremo vazio e desânimo. A criança pegou o balde e lhe amarrou a linha e, alígero para dar voo àquele céu sem nuvem e se queimar naquela rua nua, foi cortar sua infância ainda com tão poucas escamas. Voltou após um canto de ocaso da mãe com os olhos cheios de água e boiando alguma solução para seu amanhã.
O caminhão-pipa era sua fonte de diversão momentânea. Nele a criança escoava os seus anos. O cerol do seu dia a dia lhe cortava as asas em pequenas felicidades. A criança, por um tempo, criava sua própria história. A mãe não teria mais porquê chorar, ou até choraria diante de pratos limpos e panelas ferventes.
A sede de brincar permaneceria, mas até quando? O caminhão-pipa, assim como a vida, é temporário. A criança é um brinquedo de água que não se repete.

(VFM)

HAIKAI


Oh dia do trabalho:
Na carteira assinada
Escrito paspalho.