domingo, 23 de agosto de 2015

TÃO DIGNAS AS GUEIXAS


(inspirado na foto de Nobuyoshi Araki)
tão dignas e miseráveis as gueixas, arrancam 
as âncoras e se masturbam com distinção
indissolúvel: por explosão, por saquê, por vazios.
a tara de ser alguém exótica, masoquista,
amarrando-se aos cordéis de cânhamo
e de purgações. dizem: "ao meu corpo
vamos beber as coordenadas tão dignas
dos marujos, dos jovens mortos".
as bocetas em abcessos e o nutritivo
prazer dos navios que ancoram nas costas.
os seios curtos, espremidos nos quimonos,
e as bocas treinadas para o horizonte.
elas riem-se ao som ridículo dos faróis,
aonde julgam, tão dignas, das catástrofes.
ao nível do mar, como samurais, elas
cortam as ambições de casamentos e
dos que se deixam se abandonar pelo
grotesco e nulo tesão dos não afogados.
a bandeira ainda treme, aberta, a todos,
diante do sol vermelho, que na antípoda
dos olhos se despede, com uma olheira mais,
toda a noite, para a volta ao mar do nada.
tão dignas as gueixas com velas nas mãos,
no amanhecer, que limpam o vário gozo
depois e depois de outro, e não se reconhecem
amarelas, mas apagadas pela solidão tutelar.
(VFM)

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