quinta-feira, 19 de novembro de 2015

DE NADA VALE


p/ Mariana
antes, perseguido por peixes o rio fosse
para apressar até a praia o orgulho de
um velho oceano, onde abandonei o amor.
no entanto, o rio não é doce e se arrasta
e clama. Sua sobrevivência não tem
mais roupas de banho. é qualquer lugar
de lama. quem tem história deita na lama?
quem te moldou assim afogou sua arte.
esse rio contou tantas viagens com sua
voz suada e íntima. hoje ele se refugia
em duras lágrimas, em triste cerâmica.
agora, de nada Vale, de nada Vale.
ninguém vê mais o rio, nem a cidade.
homens, talvez como meu pai, não vão
mais voltar para pescar suas lembranças.
os olhos içam ameaças, recolhem óbitos.
antes, perseguido por peixes o rio fosse.
agora, de nada Vale, de nada Vale.
a terra é mais segura que a água?
o rio vive dentro de mim quilômetros
e quilômetros de saudade, e não é
mais doce chamá-lo, são margens tóxicas.
hoje, não o vejo mais. o que penetra
dentro dele são mãos sobreviventes e sujas.
o homem mergulha em sua própria morte.
água vida, água limpa. de nada Vale.
adeus, Mariana, minha filha, minha casa,
minha alma e minha lama.
agora, de nada Vale, de nada Vale?!
(VFM)

Nenhum comentário:

Postar um comentário