sexta-feira, 22 de maio de 2015

através das feridas


através das feridas Sartre
limpava os óculos vazios
para enxergar melhor o
exército de pulgas que
lhe invadia a angústia de
ser. um tal não-sei-quê
ainda sangrava pela pele.
'ele nada é enquanto não
fizer de si alguma coisa',
foi assim q ele coçou os
olhos através das feridas,

enquanto se barbeava
no primeiro sinal de chuva.
Sartre comia lentilhas e
a existência do sabor
era aziaga e subjetiva.
tudo era um projeto do
q somos, assim miava
o gato ao lamber sua
consciência atordoada.
a tristeza das suas lentes
para a miopia da vida
era um problema do ser
e não secava o coagulado
horror da realidade humana.
através das feridas Sartre
matutava se ela vinha
de fora ou de dentro e
se ele devia aceitá-la ou
simplesmente recebê-la.
seu olhar zanaga, suas
inquietudes de verme e
bicho ontológico não doíam
os cortes profundos que
lhe marcavam a alma no
entendimento de mundo.
aquelas feridas para Sartre
lhe faziam imaginar quem
era, e na dura verdade
aquele sangue representava
o seu nada ser.

(VFM)

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