quinta-feira, 16 de abril de 2009

Conselho

“Meu conselho mais importante para todos vocês, aspirantes a escritor: ao escrever, tentem deixar de fora as partes que os leitores pulam.” (ELMORE LEONARD)



Escrever? Muito já me obriguei e me obrigaram. Desde o primeiro contato que tive com um caderno, via-láctea branca, forcejei e forcejaram comigo de tudo. Iniciei por caminhos bêbados, letras sonolentas, trôpegas, que se arrastavam dentro do deserto linear e alvo, votivos espirais passavam e passavam e seguravam as garatujas e rasuras fora de rumo. Certo momento dei e deram para assinalar dados numéricos, um tanto de desenhos, que numa soma chegam a mais números, além das palavras novas: mais e menos, divisor comum, primos, equação, divisão... do meu mundo a um coeficiente ensandecido. Outras vezes cismavam com Biologia: flores heliotrópicas enfeitando os cantinhos das brochuras, seres cordados pulando entre um rabisco e outro, anelídeos de palavras alongadas. E vinha Geografia: latitude que não se achava, cerrado os olhos de cansaço, planaltos tão altos. Nem me recordo de Física, um tanto matéria, um tanto energia, empuxo que me puxa; Química, então, Deus meu! Haja Alcalóides e Benzenos para aliviar o estresse. Esta foi minha lida. Décadas depois, lá vai eu me enveredar no microcosmo da Literatura. Escrevi contos sem pontos, que nem te conto; poemas sem temas, com muito estratagemas, romances ouvindo trances, fazendo performances. Artigos de perder amigos, críticas cáusticas, e assim transcorri papers. Livros de tanta vida, páginas perdidas, cadernos escondidos, folhas dentro de garrafas com rolhas, extratos de fatos, publicações de canções. Ah! Como ia ocultar as cifras e músicas que bocas loucas, euforicamente, me assumiam... Bons tempos dantes! O que mais tenho saudades são das rimas, meus imãs, meus prismas: "Meu coração é um almirante louco que abandonou a profissão do mar e que a vai relembrando pouco a pouco em casa a passear, a passear...". É... por isso que escrevo, ou melhor, minha vida foi de muito escrever, pois é como pintar, confesso que desenhos pouco cumpri, suavemente se vai marcando letra a letra numa sinfonia de chuva e, quando se para para ler, pronto!, que lindo texto, não importando o contexto. Escrever é assim: Um prazer imenso e intenso, mas que poucos sabem levar. E dancei muito entre linhas e pautas lautas, com perfeição! Enfim... Um conselho: Escrevam incessantemente! Escrevam enquanto é tempo, pois, apesar de não poder e fazer tal diabrura, sentir o atrito e afago do papel, garanto-lhes, é algo inefável. Deixei muita história e estória para todos, é só lá me procurar num ermo das bibliotecas, ou nas luzes estridentes das livrarias, que antes de digitadas passaram por mim, em outras épocas. Agora sem mais para dizer, deixo registrada a minha autobiografia. A minha vida que se esvai, gota a gota, até a última força. Esta foi a minha história triste e feliz. A história desta Caneta, sim, sou uma Caneta, que se despede, pois já não sabe quando é chegado o momento de morrer e parar. A gente pressente que vai ressecar e, um dia, deixar de registrar as coisas lindas da Vida. Sei que o meu fim está próximo e, num átimo, vai me pegar antes deu querer e de dizer adeus a todos. Só não quero imaginar quando, realmente, ficarei sem tint(...)

(VFM)

5 comentários:

  1. Mas não me diga que tão inspirada verborragia e poesia saiu, assim, do nada, pouco depois do meio dia?

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  2. Pior que saiu! Obrigado por me ajudar na pauta. rs

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  3. hahahaha...caneta de poeta!!! =)
    Ótima sacada meu amigo...ainda bem que virtualmente, a tinta não acaba e você pode escrever o quanto quiser!!! hehe

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  4. "E vinha Geografia: latitude que não se achava, cerrado os olhos de cansaço, planaltos tão altos."
    Quanta inspiração, quanta poesia... meu caro sobrinho, meu lindo...
    Um brinde 'tinto' a sua caneta!

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