quinta-feira, 4 de agosto de 2016

1 CONTO DE TERROR


Sempre fomos muito religiosos. Íamos à igreja todo fim de semana, em família, e orávamos diariamente. Estranhamos quando voltávamos pra casa e um cheiro de queimado infestava toda casa. Procurávamos, alardeados, pelos cômodos, mas não descobrimos o que era.
Com o passar do tempo, já desconsiderando o cheiro constante, mamãe começou a notar que a sua coleção de crucifixos, rosários e bíblias estavam sumindo aos poucos. Ela nos questionou, castigou e repreendeu. Eu e minha irmã negamos o ato e juramos por nosso senhor Jesus Cristo.
Certo dia, mamãe resolveu fazer faxina no porão de casa para colocar algumas coisas à venda. Tínhamos medo de ir lá pra baixo. Eu e minha irmã comentávamos entre nós que os pesadelos viam de lá, o que nossa mãe esbravejava. Foi quando ela ao adentrar na escuridão do porão, o qual as velharias adormeciam, que ela sentiu ainda mais forte o cheiro de queimado. Eu e minha irmã nos encontrávamos na sala brincando.
De repente, a porta se bate com agressividade. Mamãe lá embaixo ainda. Um calafrio percorreu meu corpo e o crucifixo que ficava pregado no alto da parede caiu. Não ouvimos nenhuma palavra. O silêncio nos assustava enormemente naquele momento.
Mamãe não ligou para a porta e continuou sua busca; a luz se esvaindo, o cheiro forte e o frio eriçando os pelos dos braços. Ela começou a orar, indo cada vez mais ao fundo, vasculhando a escuridão. No canto mais ermo do local, um bafo soprou-lhe a face, o que a fez recuar. Suas orações aumentaram e ela se agarrou a sua fé. Falava alto: "Deus é o todo poderoso e ele está no comando do mundo!", e repetia e repetia. Quando mamãe retirou algumas velhas caixas as quais encobriam uma certa fumaça, que ela pode ver aterrorizada de onde vinha o cheiro. As suas bíblias ardiam, página por página, misteriosamente, ao lado de outros crucifixos de sua coleção. Eis que mamãe recua após apagar as pequenas chamas, orando fortemente, e escuta gritos ensurdecedores. Ela corre, pois pensa que somos nós. Algo lhe agarra a perna. A luz se apaga completamente.
Da sala eu e minha irmã escutamos os gritos. Com falsa coragem, corremos até a porta do porão. Abrimos e gritamos por mamãe. Lá estava ela, se arrastando pela escada, os olhos revirados, nos olhando fixamente com terror, enquanto vomitava os seus crucifixos em borbotões.
(VFM)

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