sexta-feira, 7 de abril de 2017

DIA DO JORNALISTA


Saiu para a labuta da reportagem, chapéu na cabeça, coçando o nariz de cera. Tomou seu suplemento diário, abrindo aspas e um sorriso, enquanto arrumava o bigode antes da entrevista. Pigarreou um briefing de maços atrás no tempo em que olhava a última chamada no celular. Tudo para ele parecia muito clichê. Como não tinha tomado café, sentou para comer uma notícia com cobertura de ontem, bebendo um cálido artigo. Logo lembrou que tinha deixado a janela aberta e que com a chuva que se diagramava no céu o clipping pendurado no varal iria molhar. Mas não tinha jeito. O seu deadline já cantava no alto das igrejas e nas sirenes das autoridades.
Pagou o jabá antes do fechamento dos informes. Correu pelas ruas sem muita legenda, mas de súbito aquela dor na coluna - crônica! - voltou a lhe atazanar, tudo pelo exagero de cruzar as informações entre teclado e tela e cadeira e plantão. Tomou um tabloide para aliviar a dor e lembrou que devia ter levado o crédito pela noite de ontem no jornal quando viu pelo espelho a nova editora-chefe - fonte dos seus suspiros.
Porém, o que ficou divulgado foi que o seu expediente não lhe permitia furos e atrasos. Mas naquele dia ele tinha achado o gancho. Tirou da gaveta aquela velha manchete, matéria fria, que continha todo o seu mailing e intento. Sem muitas perguntas e respostas, quando ela estava encostada na sua editoria, de olho plantado em releases e personagens de cosméticos, ele, em off, a convidou para um particular pingue-pongue. Ela, na retranca, não quis repercutir aquele bate-papo, deixando em stand by, dizendo: "Lead com o fato de que a realidade tem mais caracteres do que sua pauta". Porém, antes de fechar o texto final daquela situação, ela informou que daria para o ocorrido novo título: sua demissão!

(VFM)

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