terça-feira, 20 de janeiro de 2015

UMA ÁRVORE




Uma árvore decapitada
Nas linhas calosas
E ainda com pulso.
A extinção da verdade, 
Que emprenha a terra,
Se despede nas mãos
Do homem.
As folhas estão a lacrimejar
No rude chão talvez pétalas
Talvez frutos e sumo
E dores. Nas mãos só
Lodo. Só lodo.
A rubra seiva tingindo
Os pés da humanidade,
Como falso cimento.
Uma árvore. 
O tropeço na fresca lembrança.
Uma impermutável saudade.
O ato fatalístico e desmembrado
Do parvo homem. 
A mão trágica e confiante do homem
Extirpando a verde vida.
Um machado na foto de Hitler,
Uma serra elétrica de tocaia.
Reflexos do ocaso de Adão
E da abotoada babaquice.
Só resta o cheiro, o cheiro
Suado e deplorável a
Sombrear a violência
Em sangue e cascas.
Agora resta o bater
Na madeira sem flores
E folhas. Resta o bater
Na madeira sem folhas
E sem flores ensolaradas.
Uma árvore. 
Um vazio.
Este espaço.
Este desabrigo
Infante.
Este enorme nada,
Quase outonal,
Em todo corpo triste.
Muda-se a casa.
Muda-se o homem.
Finda-se a rua
Do homem
Em um fruto
Esmagado e proibido. 
(VFM)

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