terça-feira, 31 de março de 2009

Ovo ou galinha

Estava com fome. Era uma dessas vontades de comer (qualquer coisa) algo para estafar ou sujar os dentes. A garganta pedia suco, o estômago queria ovo. Abro a geladeira e vejo que não tem mais ovo, de novo?! Procurei no galinheiro do vizinho. Furtar de lá é muito fácil, ainda mais sendo o morador um velhinho.

Quando entrei no local o que via era um tropel de galinhas, brancas, marrons e pretas. Quem sabe pegasse um pouco de leite das tetas da vaca para acompanhar? Não. Quero ovo, mas nenhum sinal do objeto desejado por minha barriga. E porque não comer a galinha? Cadê a dama dos ovos? O que mais que tinha pra forrar? Procurei uma mais cheinha... Pegar o bicho foi um estorvo. Enfim, segurei a “bichinha” com vontade e levei direto pra cozinha.

Ao chegar a casa pensei: mas e agora? Como faria para essa ave colocar um ovo?! Esperar é que não quero e não agüento. Resolvi passar para os métodos mais severos. Apertei-a como se ela fosse um limão.

Nada...

Nada saí do cu da galinha (acho que esse bicho tem é cloaca). De lá só saia caca... Tentei ameaçá-la com uma faca. O animal, burro, estava tirando com minha cara, pois ela me olhava com aqueles olhinhos negros de quem não quer fazer nada e insinuando: “continue esperando aí seu babaca, não vou te dar nada”. Cogitei por um tempo e tomei uma atitude: porque não comer esta galinha mesmo?! Não vai ter ovo, presumo. Já estou quase desistindo e passando a querer um torresmo, daqueles bem cabeludos e brilhantes. Não, eu sou renitente. Dei um tapa no bico dela e gritei com ímpeto: Dá-me logo a porcaria do ovo, pois não pedirei de novo! Ela não queria colaborar, nem defecar a tal esfera marrom ou branca. A ave continuava a me ridicularizar: “não tenho medo de você. Arranca, arranca que eu quero vê!”. Meu pavio tinha se acabado, queimado, por inteiro. Foi quando peguei o porrete e, em riste, gritei: Quero ver quem morre primeiro a galinha ou o possível ovo aí dentro... A pancada seria derradeira e fatal. Podem achar que sou um cara mal, mas famélico como estava não dava para esperar, ou suportar.

No exato momento em que armei a pontaria, à “bichinha” com os olhos estufados de fobia, chega a minha esposa e da porta mesmo ela disse: “Comprei ovo amor!”. Perdi o rumo da tacada. Olhei para meu cônjuge assustado e esbaforido, aquela galinha tinha exaurido minhas forças e a paciência. Ao retornar o olhar para a mesa a ave tinha sumido.

Nunca mais a vi ciscar por aí. Nem eu nem o meu vizinho. O bicho não voltou mais para o galinheiro, sabe se lá por quê; acho que dei um gelo na coitada. Mas, agora, eu não deixarei de me apetecer com os ovos comprados para mim. Na ávida fome que me encontrava mandei, logo de cara, esquentar todos. Meia hora depois, eu quase desfalecendo, amarelo, e de mau-humor, estavam todos eles limpos e sem cocô. Num instante quebrei todos e, para minha surpresa, estavam todos chocos.

Não como ovo de novo, desisti!

Mais fácil é comer carne de jabuti.



(VFM)

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