quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Tribuna Lagoana - Crônica de Dezembro

A Passageira



Tenho que contar, estimados leitores, as coisas que só acontecem na cidade grande. Na minha labuta diária, enfrento dois ônibus para chegar ao trabalho. Como toda metrópole, gente aos montes se esbarrando, passando anonimamente em nossas vidas, mas algumas personagens, se podemos assim dizer, marcam das mais curiosas maneiras. Foi o que aconteceu comigo, em um dos trajetos ao serviço. Não descobri o seu nome, pois ele não o pronunciou, porém vou denominá-lo de Zé.

Oito horas da manhã, sol já esquentando as vidraças, corando os bebês e suas babás no passeio na praça, lá estava eu pegando o segundo ônibus do dia, na sua invariável lotação, de muito aperto. Tinha conseguido um lugar quase privilegiado, se não fosse uma espaçosa senhora que me espremia no pequeno banco.

Durante o caminho, não demorou a subir aquela figura, chapéu de palha na cabeça, cheiro de fumo de rolo na camisa, calça a sufocar o umbigo, botinas bicolores, preta e terra. Carregava em uma das mãos, pelo menos, cinco sacolas de feira e em um dos braços a sua adorável criança... uma gigantesca melancia. Subia o tal Zé no aperto, empurrando as senhoras que praticamente bloqueavam sua passagem até a roleta. Desengonçado, como um equilibrista, segurava a fruta contra o peito fortemente. Entretanto, no balanço e sacolejo do ônibus, a enorme melancia lhe escapa da mão, cai, e sai rolando em direção a roleta, e roda, passando para o outro lado. Eis que o Zé pede ao trocador:

- Tem como pegar minha melancia?

- O senhor vai ter que pagar, pois ela rodou a roleta.

Aí o Zé começou a discutir com o trocador, dizendo que não iria pagar e tudo mais. Querendo evitar mais confusão, o Zé pagou para a melancia e pagou a sua passagem também. Tinha vagado, naquele momento, duas cadeiras. O Zé assentou-se e colocou a melancia do seu lado, ocupando o outro banco. Minutos depois, uma senhora querendo assentar disse ao Zé:

- Com licença, o senhor poderia tirar a melancia para eu poder sentar?

- Não posso não, minha senhora, ela pagou a passagem e tem o direito de ficar aqui do meu lado.

A moça, indignada, vira para o trocador:

- Trocador, o Senhor ali, não quer me deixar assentar!

- Minha senhora, não sei o que dizer e fazer, pois a melancia pagou mesmo a passagem, acho que ela tem o direito de ficar ali.

Todos no ônibus não seguraram o riso. Assim, dei o sinal para descer e parei no ponto perto do trabalho. Olhei para trás e o Zé e a sua estranha passageira e companheira continuavam sentados. E lá se foram os dois. Queria ter seguido até o final para ver o desenrolar da história.

Éh... tem coisas que só acontecem em cidade grande!

(VFM)

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.
    Independente de ser criança ou melância quem pagou a passagem, penso que quando alguém quer sentar, não custa o dono da melância ou da criança colocar os "seus" no colo e dar lugar para esse alguém sentar.

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