quarta-feira, 18 de março de 2009

Homo Erectus

Foi a primeira vez que experimentei aquele famigerado comprimido quadrilátero. Viagra. Pipa azul, como dizem os velhos senhores e jogadores de dama na Praça 7. Eles que me indicaram quando, ao parar para ler uma notícia na porta da banca e fumar um cigarro de palha, começaram a jogar porrinha do meu lado. Não resisti, pois sou botequeiro de copo trincado e não me abstenho desta clássica jogatina boêmia.

Éramos cinco. Astor, Diógenes, um banguela que parecia o Popeye (não ouvi seu nome devido à falta de dentição), Sebastião e eu.

- Sete!
- Nulo!
- Dez!
- Nove!
- Oito!

Gritamos com nossos palitos, braços em riste. Somamos. O Popeye venceu com seu 7 fajuto. Rindo com sua gengiva escura, ele aproveitou para contar um causo do seu relicário histórico (vou tentar dizer mais ou menos, bem menos, o que, ele balbuciou, ele disse).

- Sete! Foi isso mesmo. Tomei um comprimido que colocou a cabeça latejando, furando nuvem.

- Tomou um LSD, foi?

- ! Viagra. Esse lobo azul desossa qualquer quenga. O pau vira porrete.

- Eta!

E continuaram com a conversa depravada. Saí fingindo comprar mais um varejo. Nem despedi. No ponto do busu fiquei matutando aquilo. Podia ver de qual é desse tal bicho azul aí. Mas com quem iria usar? Não tava rapando ninguém, só casca de angu do restaurante do trabalho. Deixei pra lá, naquele momento.

Na volta me voltou o azul, ainda mais quando fui pegar o busu. Resolvi assuntar numa farmácia. Meio sem jeito, jeito sem meio, esperei um homem desocupar para perguntar.

- Tô a procura do Viagra.

Disse eu quase de boca fechada.

- O quê? Viagra?

Gritou o sem mãe me anunciando, melhor, denunciando.

- É! Pega um pra mim lá.

Não questionei mais nada e passei direto para a caixa registradora. Paguei (caríssimo). Voltei a rua com um sorrisinho de criança sapeca.

Guardei no quarto e por lá deixei até chegar o fim de semana. Sábado! Já sei. Vou pra zona. Melhor lugar para o test drive. Ponto. Busu. Centro. Gente. Mais gente. Cheguei. Subi na primeira porta que aparentou ser local inapropriado. Vi logo de cara um negra com um traseiro... Traseiro não, caçamba. Ô loco! Nada perguntei. Entrei e é isso mesmo. Vamos testar.

Nome: Jussara
Origem: Rio de Janeiro

E começou o trabalho. Eu mega ansioso. Vou esfolar essa mulher. Ria por dentro de dó e escárnio. Mas o que aconteceu? Nada, literalmente. O meu garotinho impávido ficou foi pálido e não se agitou.

A senhorita carioca ficou me olhando como pensando "tá demorando" ou "esse não vai". E não foi mesmo. Busquei outra profissional. Entrei. Deitei. Idem. Paguei sem nada acontecer. Preferi não arriscar a terceira vez, pois o dinheiro já estava minguando. Deve ser porque sou novo que não bateu esse troço, só pode. Fui embora cabisbaixo.

Já escurecia. Fiz o caminho inverso e cheguei na minha casa.

Deitei.

Música: Sérgio Reis.

Adormeci.

Horas tantas. Madrugada pesada. Acordei com a cama piscina. O danado do remédio tinha era me tirado o sono. Oblongas horas acordado. Tentei me masturbar, mas nem assim o danado enrijecia. Dormi no sofá segurando aquele ser flácido e inerte. Sorte que minha mãe não me pega naquela tragicômica cena.

Acordei emputecido. Fiz todo o procedimento matinal antes de ir trabalhar. Mas antes peguei um remedinho que tinha guardado, pois queria retribuir o nobre Popeye.

Desço na Praça 7 e me deparo com os caríssimos senhores, os quatro, jogando, como sempre, na atividade viciosa da porrinha. Cheguei cumprimentando a todos. Joguei uma partida, que, obviamente, perdi. Sebastião levou a melhor. Dirigi-me ao Popeye e falei que tinha experimentado um genérico do lobo azul e foi sensacional. Todos riram. Disse alegremente que tinha comprado um para presenteá-lo.

-Obrigado!

- Espero que goste. Depois você me fala se deu para “mandar vê” em mais de sete.

Entreguei. Parti. Não passei mais naquela região para saber qual foi o efeito que o ecstasy tinha causado nele. Só imaginei a cena.



Obs: Este fato é fictício e qualquer semelhança é mera coincidência.

5 comentários:

  1. Muito bom isso. Eu aqui desse lado do mundo estou me segurando pra não acordar a casa de tanto rir. E acabou dando uma saudade de BH.

    ResponderExcluir
  2. kkkkkkkkkkk...será que é fictício mesmo?!!

    ResponderExcluir
  3. Que decepção... Lendo o seu texto achei que tivesse encontrado um homem na face da Terra que admitisse ter broxado.
    Aí vc me vem com essa de história fictícia! AAaahhhhhh
    Mas cá pra nós, achei o personagem a sua cara.
    Beijocas!

    ResponderExcluir