(uma
paródia do texto do Gregório Duvivier)
Conheci
ele na Suíça. Esse local pode parecer romântico se você imaginar
alguém ouvindo Nino Rota, num chiquérrimo “ristorante” em
Riesbach. Aquilo gerou o clima arrebatador e cálido, pois toda a
súcia frequentava nos anos 80. Ele era arquiteto e político. Eu não
entendia muito de croqui e caixa dois. Mas lá estava ele: rolex
cintilando no pulso e o charuto enevoando meus pensamentos. Nunca vou
me esquecer: a música era Love Theme from the Godfather. Foi paixão
à primeira vista e alguns itens a prazo, só pra mim, acho.
Passamos
algumas noites conversando ao telefone e pessoalmente sobre tramoias,
compra de votos, laranjas, contas no exterior, superfaturamento,
viagens internacionais, peculato, improbidade, fim dos direitos
humanos, às minorias, aos trabalhadores, às liberdades individuais
e à democracia.
Sua
brilhante vida pública, que teve início no governo Collor, quando
presidiu a Telerj , não demorou a ganhar a primeira suspeita, de
fraude em licitações. Aquilo me arrepiava e me excitava. Eduardo
concentrou sua carreira política no Rio de Janeiro até chegar à
Câmara dos Deputados, onde ganhou seguidores e tornou-se um dos
políticos mais influentes do país. Ai ai! Como não se encantar com
o cartão infinito que ele tinha me dado e todos os privilégios
espúrios ao longo do Sena.
Começamos
a namorar quando ela tinha 40 e eu 30, foi ali que pude desfrutar do
bom e do melhor. Vi joias enchendo meu guarda roupa, sapatos de
grifes, roupas de cristais adornarem as grandes festas dos meus
sonhos. Fizemos roubos e falsificações juntos, enquanto nosso
mordomo servia lagostas chilenas. Tive a casa das rainhas. Escrevemos
Projetos de leis, como por exemplo o PL que criminalizaria qualquer
pessoa que ajudasse ou "induzisse" outra pessoa a realizar
o aborto. Fizemos milhares de amigos oportunistas e políticos
canalhas. Viajamos o mundo e gastamos milhões do dinheiro do povo.
Aprendi a mentir compulsoriamente, sobre doações ilícitas,
homofobia e outras palavras que só o linguajar dos corruptos pode
nos dizer. Eu tive a sorte e a roleta e as fichas de Las Vegas de me
casar com ele.
Infelizmente,
um dia a coisa apertou pelos nossos exageros. Não foi fácil todos
saírem gritando que ele é ladrão. Choramos muito com a mídia, com
o povo irascível e desvairado, bem como no dia em que mataram Pablo
Escobar. Agora fico aqui vendo ele ser julgado por quem tanto o
abraçou. Não posso mais sair de casa em paz. Esses vira-folhas.
Hoje
ele foi cassado. Vou sentir falta das mordomias. Vou levar para
sempre as lembranças comigo. Esse dia me marcará para sempre.
Estarei eternamente junto dele – essa história de amor bandido que
sempre adoramos assistir. Que bom que vivi esse amor pelo dinheiro
público. Eduardo ainda vai voltar, eu sei, com pompas. Ele caiu e
isso é muito triste. Agora outros que festejam, mas a luta continua!
Agora
anda faltando caviar em casa. Prometo levar para o seu banho de sol
na cadeia o melhor protetor solar. Não há de faltar nada lá para
ele.
Com
amor, Cláudia Cruz.
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