quinta-feira, 28 de abril de 2016

quarta-feira, 20 de abril de 2016

CANCIONEIRO DO EXÍLIO


Minha terra tem pesares
Onde entoam que sou gagá.
O pardal enlameado de Mariana
Já não caga mais por lá.
Nossos morros mais favelas
Nossas lutas quantas cores?
Nossos sonhos - puxa vida! -
Nossa vida dissabores.
Em ver corrupção - ô açoite!,
Mais e mais no nosso beabá.
Minha terra tem pesares
- Onde? - Em todo o país há?
Minha terra tem horrores
Que de tantas mortes haja pá;
Minha terra não tem Reformas
Onde vive o tal paxá;
Não permita, Deus, essa zorra,
Sem alguma punição não dá;
Sem preconceitos, Conspiradores,
Que o povo é quem manda acá;
Sem que a roubalheira persista,
Onde nós moramos, Saravá!
(VFM)

terça-feira, 19 de abril de 2016

HAIKAI



o que tem passado nem conto.
hoje uso a chave da obscuridade:
o meu amanhã não está pronto.

(vfm)

segunda-feira, 18 de abril de 2016

OS RATOS


os ratos conseguiram dizer sim
com suas barrigas peludas e cheias
de cretinismo, de ironias, algemas
frouxas e risos.
os ratos usaram os seus rabos
para palitarem os dentes tão caros.
os ratos roem roem roem roem
a roupa do rei de roma da presidência.
os ratos não esqueceram de roer a
constituição enquanto cantavam, em coro,
uma ode a todos os charlatões, canalhas
e à ratazana mor chamada corrupção.
os ratos invocaram suas famílias -
ninhada que nos rói e há de roer os bolsos
das nossas calças. eles gritam:
"vamos comemorar, roedores"!
os ratos estão comendo o queijo e
bebem do nosso suor e do nosso sangue.
como são espertos os ratos, sabem bem
desarmar ratoeiras jurídicas.
os ratos são imunes aos venenos,
à democracia. envenenam cada vez mais
ruas e casas. abrimos o esgoto e eles
as bocas os cus para devorarem o país.
pobre dos gatos (talvez também gatunos)
que não dão conta, embora os ratos ponham
na nossa conta o que de nós pilharam.
grandemente danosos os ratos.
pobre dos gatos que dos telhados veem a festa,
utilizando nossa bandeira para cobrir a
mesa de um estado laico. os ratos arrotam
agora a ilegalidade e limpam os bigodes espúrios.
os ratos não estão mortos e mesmo assim
eles fedem a merda merda merda merda
e continuam a fazer mais merdas no país,
nos paletós, nos mocós onde passam.
os ratos acham que vão construir um mundo
melhor, mas se esquecem que lá fora
o povo sonha e sonha e sonha e luta
para exterminá-los definitivamente.
os ratos não querem saber de estado democrático
porra nenhuma. os ratos querem ficar juntos
e regozijarem a farsa e mijarem em quadrilha
para causar mais fedentina e prejuízos.
os ratos devem mesmo se agrupar, assim
conseguiremos mais facilmente matá-los
com nossas vassouras, nosso voto,
nosso bom senso, nossa indignação.
os ratos conseguiram dizer sim,
mas podemos escapar antes deles
corroerem tudo que resta de bem.
Que não prevaleça a violência que governam.
os ratos querem nos enganar com falsas fofuras,
transmitindo doenças mil com suas patinhas de direita
e enterrando as verdades. o sim que eles gritam
é uma peste bubônica para o brasil.
à medida que a noite abria os seus braços para
a esperança, os ratos subiam vorazes ao púlpito
para roubar a cena e gritarem: "sim! sim! sim!
somos indestrutíveis! somos o que somos"!
os ratos querem deglutir o povo e apodrecer
os estimados frutos da democracia. os ratos
(pobre de Deus!) pregam o evangelho e a ditadura
e bebem a água benta e nos colocam a culpa.
os ratos, quando nos demos conta, tornaram
em migalhas nossa liberdade, incitando o tumulto
e almejando devorar nossos sonhos e nos dar
ordem e nos forçar a dizer sim sim sim sim.
os ratos conseguiram dizer sim,
mas nós vamos vencê-los. vamos tapar os buracos
que fizeram. vamos tornar o país um lugar seguro e livre
para dizermos NÃO aos ratos. NÃO aos ratos!
(VFM)

quinta-feira, 14 de abril de 2016

Aracnídea



teias de aranha
no canto da janela.
diviso a montanha
que se debate
antes de ser 
devorada por 
tantos olhos.

(VFM)

quarta-feira, 13 de abril de 2016

NANOCONTO


DIA DO BEIJO
- SMACK!!!!!!!!!!
- Kiss tória é essa de língua?!

GOLPE DE ESTADO


eu a pedi em casamento na hora errada.
em meio a uma crise política
já estávamos em meio a uma crise relacional.
entrementes, alguém pedirá impeachment,
alguém votará a favor disso rindo com seu
charuto entre os dentes de ouro, alguém
há de comprar nossos votos matrimoniais.
eu devia tomar partido, mas ando preferindo
andar trôpego e bêbedo tomando cervejas
e vendo algum dono de bar ou de zona eleitoral
sorrindo pelo meu parco salário mínimo.
moramos na mesma casa em que o médico
frequentemente passeia com seus comprimidos.
calmamente ele vai sussurrar que não haverá golpe.
assim, eu dormirei tranquilo e quando acordar
alguém já terá tomado o meu estado de louco.
(VFM)

segunda-feira, 11 de abril de 2016

Melancolia


Não interrompa a melancolia.
A faca se faz cega de medo
E a mágoa me cortou o dedo
quando o meu olhar não mais te via.
A solidão que me abomina,
Mas cativa o prazer humano,
Faz do passado presente dano
E do futuro carnificina.
Estou só e você já foi minha.
O amor é uma face mesquinha
Por essa caminhada sem data.
Carrego comigo a descrença,
Pois se te procuro sem ofensa
A melancolia vem e maltrata.

(VFM)

quinta-feira, 7 de abril de 2016

quarta-feira, 6 de abril de 2016

MICROCRÔNICA POLÍTICA



Enquanto alguns estão agarrados na fase 215 do Candy Crush, outros estão presos na fase 27 da Lava Jato.

HAICAI


não há sombra de dúvida
nessa clara evidência:
poesia é luz dissolvida.

segunda-feira, 4 de abril de 2016

ÚLTIMO TRAGO


ela catou uma guimba de cigarro no chão ainda acesa
e deu o último trago. imaginei o gosto de filtro lhe ardendo
nos lábios, tudo por falta de beijos ou sorrisos. eu queria
lhe pagar um drink e dizer pra sentar comigo essa noite.
ela sorriu enlouquecidamente pra mim e veio descalça
calejando ilusões. pediu-me um cigarro e ofereceu
sua porção morna de amendoim por dois reais. comprei
talvez algum sonho futuro, pois meu amor é mais barato
do que aqueles olhos vidrados da noite passada.
ela logo se foi. levou a pedra do meu coração pra fumar
perto de algum anúncio de sapatos femininos.
e se esfumou.
(VFM)

sexta-feira, 1 de abril de 2016

1º de Abril


Mentira tem pernas torneadas e prontas para furtar sorrisos; um joelho bem montado, rotundo, para subir à pique nossos humores, pondo-os em confusão; pelos curtos e claros ou talvez nem tão claros para nossas ações; canelas marcantes a nos dar esperança; coxas vistosas de tirar o juízo e batatas que pulsam, ilusórias, ao seu caminhar galante. Hoje topei com ela em pleno dia do seu aniversário. A língua naquele silêncio oco. Queria dizer palavra a palavra a notícia do meu amor. Mas tudo para ela, na sua pequenez generosa, parecia, assim como ela, Mentira.
E fiquei a mentir toda minha verdade como uma desculpa esfarrapada.

(VFM)