Na sua sede de brincar, com os olhos amigavelmente no céu e, hora ou outra, travessos na rua maltratada de sol, ele molhava os lábios rachados de desejo e sorria, como primeiro vento, um pedido à mãe:
- Será que hoje posso brincar de caminhão-pipa?
A mãe consentiu no seu extremo vazio e desânimo. A criança pegou o balde e lhe amarrou a linha e, alígero para dar voo àquele céu sem nuvem e se queimar naquela rua nua, foi cortar sua infância ainda com tão poucas escamas. Voltou após um canto de ocaso da mãe com os olhos cheios de água e boiando alguma solução para seu amanhã.
O caminhão-pipa era sua fonte de diversão momentânea. Nele a criança escoava os seus anos. O cerol do seu dia a dia lhe cortava as asas em pequenas felicidades. A criança, por um tempo, criava sua própria história. A mãe não teria mais porquê chorar, ou até choraria diante de pratos limpos e panelas ferventes.
A sede de brincar permaneceria, mas até quando? O caminhão-pipa, assim como a vida, é temporário. A criança é um brinquedo de água que não se repete.
(VFM)
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